sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Aqui

Tenho um quarto para arrumar. Tenho. E neste quarto tem tanto, tanto... Tem tanto, que diria ter até a mim. Mas não, não é um quarto qualquer, como um cômodo perdido pela casa onde ficamos parte do tempo e saímos horas depois, assim sucessivamente. Não, este é um quarto especial, de verdade. Sim, também saio, também volto horas depois... saio e volto. Mas, ao sair, sinto não só deixá-lo. Sinto deixar-me também. É engraçado como conto, em muitos contos, o quanto me deixo, não? Eu acho. Aliás, acho tanto que diria que não mais engraçado é, é parte, parte deles, dos contos, como parte de mim, deixar-me. Mas, como ia dizendo... quando o deixo, não sinto só deixá-lo. Acho que pensas, de novo, como acontece... Vou te explicar: nele me encontro. Nele, dia após dia, me encontro mais e mais. Ou, às vezes, nele, dia após dia, sinto perder-me mais e mais. E não só a mim. Perco a ti. E encontro a ti também. Em que? Ah, papéis perdidos, caixas, palavras... pensamentos. É que nele sou eu. Sou inteiramente eu. Deixou-me ser, novamente. Ou melhor, deixo-me encontrar a mim mesma. Compreende? Nele, perdida em coisas soltas, sinto-me ao alcance dessa vida que corre, porque posso parar. Estranho alcançar algo parando, não? Sim, acontece. Principalmente quando se fala de viver. Mas, bom, falava do quarto. Falava do quanto é especial... Sabe, diria que é tão especial, que pra onde for, o levarei... mudanças longas, é claro. Porque digo, ainda, que talvez não sobrevivesse, ou sobrevivesse, só que não tão bem, longe dele, já que ele leva um pouco, um pouco bonito de mim. Vou ser clara, ok? Tenho um quarto pra arrumar. Um quarto que carrega a mim e a tudo que carrego de ti. Tenho um quarto pra arrumar que representa quase a bagunça que tu lês agora. Enfim, tenho um quarto que pede pra ser limpo... que pede pra ser mais limpo, que pede pra ser mais livre. É, eu tenho um quarto aqui... sim, estou nele, e ele está em mim. Porque, não sei mesmo te dizer se este quarto é onde estou, o que me rodeia, ou o que eu rodeio. E, pede pra ser limpo: este, onde estou, pede que eu tire o pó, que eu junte os papéis, que eu limpe o apontado do lápis, que eu volte a arrumar a cama, que eu volte a dormir na cama... que eu volte pra ele, e que eu volte pra mim, enfim.
R.A 29/10/10

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