terça-feira, 22 de março de 2011

Aniversário CMPA- 99 anos
















Colégio querido,
Tenho confissões a fazer: sou apaixonada... Sou apaixonada pelas histórias que compartilhamos, pela alegria que temos, pelas angústias que dividimos, pela grandeza de ser o que somos, que nos rodeia, que nos permeia em um só lugar: aqui. Sou apaixonada por esse nosso mundo fechado, que se fecha com a solidez das mãos dadas. Sou louca pela nossa história, pela nossa tradição, pelos nossos tantos anos que não perdem com o tempo- e, sim, constroem, fortalecem. Sou apaixonada pelos nossos 99 anos, pelas nossas marcas, pelos nossos símbolos. Sou apaixonada pelo que conhecemos, pelo que desbravamos, pelo que rimos e também pelas horas em que as risadas não cabiam. Sou apaixonada por isso que só somos aqui. Sou louca pelas nossas lembranças, pelos nossos brados, pelos nossos "bravos"; pelas nossas conversas, pelo nosso compartilhamento, pelo nosso espaço delimitado, mas pelos limites do cuidado. Sou apaixonada pelas considerações, pelos apertos de mão, pelos abraços apertados. Sou louca pela nossa riqueza de detalhes, pela nossa nobreza em palavras, pela nossa delicadeza em gestos. Sou apaixonada pelo amor semeado com cuidado e enrustido em rigidez. Por tudo isso, que só há aqui. Sou dividida: sou divida entre ser apaixonada e ser louca por esse lugar; onde a loucura é o extremo da lucidez de saber a grandeza do que se tem. Sou apaixonada pelo que só há aqui, pelo que há aqui e também em outros lugares, mas sem a marca do coração. Sou apaixonada pela lembrança da infância que me toma quando estou do lado de fora, que era imaginar esse mundo do lado de dentro. Sou tomada pelo aperto no peito quando entro e vejo que a infância bem faz em sonhar, mas a juventude ainda melhor faz em conceder um sonho maior do que próprio sonho de criança. Sou louca pela nossa história marcada por poetas, por presidentes e por, no que há de essencial, pessoas felizes, realizadas. Sou rendida quando mesmo cansados, com cinco, seis anos de canção, enchemos o peito e cantamos com a alma. E há quem diga que não, mas um dia se renderão. Eu me rendo quando vejo quem menos parece prezar encher o peito de verdade, sem a alfinetada, ou a canetada da obrigação, e cantar. Sou louca pelos tantos anos que não nos separam dos que foram, mas que nos juntam em conversas sobre um único amor: esse amor aqui. Que faz nos pararem na rua para falarem da saudade, do caminho que tomaram por uma ou várias das tantas inspirações que tiveram neste lugar. Sou louca: sou louca por isso tudo. Pela batida do bumbo que arrepia, pela seriedade no rosto e pela alegria explodindo no peito; pelos fins de manhã, que passo pelo portão e sinto a felicidade de não ser mais aquela criança que sonhava em ser acolhida por essas arcadas- e, sim, a guria de hoje que tanto é acolhida. Sou louca por nossa vibração em conjunto pelo centenário que chega. Mas sou lágrimas junto, quando lembro que passa o centenário, passam as arcadas em nossas vidas também. Sou louca pelo nosso sentimento, pela nossa cumplicidade, pelo nosso companheirismo. Sou apaixonada pela nossa saudade: dos que já foram há tantos anos, dos que foram há poucos, dos que estão aqui e já sentem esse aperto no peito; dos que saíram aliviados, dos que choraram um rio de lágrimas. E pela nossa saudade nem saudade ainda: essa saudade de cada dia que nos aproxima mais da saudade propriamente dita. Que junta cada dia a esses 99 anos e nos cala. Dizer mais seria válido, mas quando 99 anos de história gloriosa se fazem pouco perto do amor que todos sentimos, só nos resta uma confissão final e um agradecimento. A confissão que diz fazeres parte dos maiores amores, das maiores belezas, das maiores grandezas, dos afetos mais sinceros da minha e de tantas outras vidas. Então, CMPA do nosso coração, da nossa alma, obrigada, mil vezes obrigada por esses 99 anos de ardor em si.
R.A Março/2011












domingo, 20 de março de 2011

Minha saudade anda sofrendo de ansiedade. O tempo pra ela tem sido como o tempo pra quem morre asfixiado. O tempo pra ela tem sido como o tempo pra insônia, pro tédio, pra lucidez quando não se quer. Minha saudade anda sofrendo de ansiedade. As palavras pra ela têm sido como as palavras do poeta: uma tentativa de estancar o sangue, a raiva, o sofrimento, a felicidade exagerada, a carência, o afeto que ultrapassa as paredes da alma. Minha saudade anda sofrendo de sei-lá-o-que: não dorme mais, não se alimenta mais- passa a noite em claro esperando a inexistência de si. Minha saudade anda sofrendo uns transtornos estranhos: não é a mesma saudade de antes. Anda mais insana, mais distante e mais alerta ao mesmo tempo. Minha saudade anda sofrendo de paixão e não sei o que fazer com ela. Quando sofria de amor, acalmava ela nos braços de alguém, nos meus próprios braços. Agora não há ardor que acalme essa angústia. É um exagero, são instantes entre a lucidez e a loucura que não se findam. Minha saudade não pensa mais na imensa inexistência que a fez existir. Parou, parou de pensar! Calou-se. Colocou toda dor, todo amor, todo vazio, toda existência incompleta- tudo que a sustentava em uma só palavra. Minha saudade deixou de ser saudade: minha saudade virou paixão.
R.A 20/03/11


Bi amada, espero que tenha gostado do vídeo (não consegui postar ele aqui, mas vou continuar tentando). Nos divertimos muito fazendo... E daqui uns 5, 10, 20 anos (pode ser?), a gente se encontra para rir disso novamente (do Leo principalmente....). Espero que isso te mostre, como todo resto, o quanto és especial, adorada por tantos, por nós.
Esperamos tuas palavras... Mas, mais do que isso, tua presença.... de alma.


Tua felicidade ontem à noite me refez, me provou mais uma vez o quanto amo estar nessa vida rodiada de vida. Me provou mais uma vez o quanto um sorriso vale, um abraço vale... o quanto o amor vale.


Agora cá estou eu escutando as músicas do Olavo... E lembrando das palavras dele de ontem. O que sinto? não sei bem, é maior que eu. É como se a lembrança de estar ao lado de vocês ontem à noite tivesse me roubado as palavras e me deixado o que chamo de "puro sentimento". E essa pureza não cabe em palavras...


Te amo... e lembrei de ti me ensinando a dizer "te amo". Acho que aprendi e agora sei dizer bem: te amo, te amo, te amo...


Que esse teu coração se ilumine a cada lembrança de ontem, a cada abraço sentido forte ainda, a cada passo que te embalou, e agora embala os teus sorrisos... Que essa tua alma se alimente sempre da mesma luz que fez o teu rosto brilhar: da felicidade.


Mil beijos, mil abraços, mil amores, mil lembranças... Mil sentimentos!!!!!!


Com carinho, com muito,


R.A. 20/03/11





quinta-feira, 17 de março de 2011

3 anos...















A gente tem crescido ao mesmo tempo.
De um lado, o tempo fazendo a criança seguir a vida pelo caminho da infância que um dia finda. Do outro, a vida me fazendo encontrar a infância que findou, mas que pede visitas.
De um lado, o tempo mudando os traços, alisando os cachos, escurecendo o azul dos olhos. Do outro, o tempo consolidando os traços mais certos, os amores mais bonitos, os carinhos mais sinceros.
De um lado, a vida criando os laços. Do outro lado, a vida soltando uns nós, e criando outros novos.
De um lado, a vida marcando a inocência num caminho ainda longo. Do outro, a vida seduzindo num caminho sem um fim certo.
De um lado, a infância fazendo seus questionamentos sem ideia de resposta. Do outro, a juventude fazendo os seus, mas com as desconfianças já tão próprias de quem carrega uma bagagem de infância e outros anos passados.
De um lado, nos olhos azuis, o encanto. Do outro, nos outros olhos claros, o encanto tão quanto.
De um lado, as perguntas, as vontades de manejo, de descobertas. Do outro, já várias respostas, mas também a vontade de decifrar.
De um lado, três anos. Do outro, mais que cinco vezes ainda somados a inúmeras lembranças e a esquecimentos que nos fazem.
De um lado, a criança. Do outro, não mais.
A gente tem crescido ao mesmo tempo.
De um lado, meu pé na frente, meu pé atrás. Meu pensamento meio hoje, meio ontem, meio amanhã.
Do outro lado, os dois na frente e acelerados. E o pensamento no imediato que foge do que os olhos acobertam, e deslumbra.
A gente tem crescido ao mesmo tempo.
De um lado, um crescimento dentro do tempo, do espaço. Do outro, um crescimento sem tempo e sem espaço; um crescimento de alma, talvez na própria alma, mas não só minha.
De um lado, um crescimento que faz os anos voarem, que deixa a impressão de que o tempo corre.
Do outro, um crescimento que faz o que essa corrida pede, implora: agarra esse tempo aqui, e faz dele, mesmo corrido, um tempo de tempo vivido.
A gente tem crescido ao mesmo tempo.
A gente tem encontrado a infância. A gente tem se deparado com o mundo ao mesmo tempo.
Meu papel de criança foi feito, agora aprecio, em encontros tão perdidos em ambas as vidas, o dele.
E em meio a esse apreço, somos dois no mundo: um encantado pelo novo e o outro fascinado pelo novo já velho.
E nesse apreço, somos dois curiosos. E nesse apreço, somos dois fascinados pela vida lá fora.
A gente tem crescido junto. Onde a gente vai se encontrar? Talvez na vida, talvez em meio ao próprio fascínio, talvez na lembrança do momento de fascínio que nos fez.
A gente tem crescido ao mesmo tempo.
E nesse crescimento, a vida ensina a esperar; desde a espera da criança à espera de quem espera que a vida não faça muito esperar.
A gente tem crescido ao mesmo tempo.
E todo passo é como um passo no espaço. Todo passo é quase sem tamanho perto do espaço de vida a percorrer. Mas todo espaço de vida é um espaço a ser preenchido pelos passos de quem dá.
Enfim,
A gente tem crescido ao mesmo tempo.
Entre as palavras desbravadas e as palavras desafiadas...
Entre o descobrir dos espaços e o decifrar dos vazios, dos amores...
Entre o crescer da mente e o crescer da alma...
A gente tem crescido!
R.A 17/03/11

Clarissa...

Sei que te prometi palavras... Mas não sei até que ponto elas sabem dizer pela gente ou com a gente. És especial demais, marcada pelos sentimentos mais bonitos, rodiada dos carinhos mais merecedores, repleta de um brilho que não só torço pela existência, como acredito muito que vai te acompanhar vida afora, Cla...
Tens um olhar que o tempo, com as suas artimanhas, vai poder abrir para o mundo de tal maneira que nem sei dizer como... E torço por isso. E um coração, então, que, diferente do tempo, talvez não se abra tão quanto ou mais -porque quem melhor faz isso é essa infância que vives-, mas que vai encantar muito ainda com a delicadeza de sentir o que sente da maneira que sente simplesmente. Torço, torço muito!

E se leres isso aqui daqui a seis, sete anos, espero também que te vejas ainda marcada por esse brilho de criança feliz que não merece morrer. Que te encontre com a delicadeza que tens, com a criatividade de hoje...
E digo mais: às vezes olho e vejo uma luz em ti... uma luz que sabe guardar- que vem guardando, da sua maneira, é claro- as coisas mais bonitas, mais sinceras, que essa criação te dá. E isso é difícil... Essa valorização já quando pequena é rara. E, sem dúvida alguma, é isso que te faz... e que te faz mais bonita. E... isso é pelo que mais torço: que cada vez cresça mais em ti esse reconhecimento, esse retorno, esse carinho que volta.

És especial! Todos somos... E saber isso faz uma diferença tremenda...

O tempo é louco, Cla. Me assusta também. Acho que a todo mundo, nem que seja um pouco. Mas conto contigo... para uns cafés, para uns filmes, para umas histórias, para os abraços do Olavo, para as ideias cheias de vida da Denise. Conto com a tua presença- de corpo ou não- na minha vida por muito tempo!
Afinal, como diz o Olavo, "é de outras vidas". E essas coisas não vale deixar o tempo atropelar...

Feliz dez anos! Só dez... de tantos. Só dez... e já tanto.

Beijos da Ri.

sábado, 12 de março de 2011

A lua e as metades

Lua pela metade, volta pra casa. Casa pela metade. Onde foi parar a casa inteira? na lembrança da infância. Lua pela metade, infância pela metade. Onde foi parar a infância inteira? na vontade da criança crescida. Lua pela metade, carência pela metade. Onde foi parar a carência inteira? no carinho de quem cuida. Lua pela metade, retorno pela metade, sentimentos talhados a metades também. Onde foram parar as outras metades? nos inteiros de mim.
Lua pela metade, volta pra casa, lado de dentro, metades. Onde foram parar os inteiros?
Lua pela metade, metade com luz, metade sem.
Lua pela metade, volta pela metade. Onde ficou a outra parte de mim? Na metade com luz.
R.A 12/03/11

sexta-feira, 11 de março de 2011

Quem sou eu? Gosto dessa pergunta. Gosto de "quem és tu?" também. Gosto das perguntas, do decifrar. Sou louca pelo encanto. E um pouco pelo desencanto também. O desencanto que faz a gente se sentir mais na vida. Que deixa a gente mais exposta, mais descoberta, mais aberta. Sou uma infinidade de coisas. E o que é essa infinidade? Não me afirmo muito. Digo: não digo muito "quem sou eu". Acho que essa convicção, essa resposta certeira é erro. Não é certa- é erro. A gente não é nem perto daquilo que diz- só daquilo que diz. Se demarcar um pouco, se é que isso existe, talvez seja válido. Talvez seja, porque acho que a gente, sem perceber, é por muito tempo, se não todo tempo, um pouco criança também; uns até meio recém-nascidos, outros, adolescentes. Mas todos com um lado- em uns, pouco enrustido, em outros, nada, em alguns, tudo- que não amadureceu. Então determinar certas coisas de si, até onde vai, o que realmente não gosta, o que não deve, ou o que realmente gosta, é como um cuidado de mãe para filho. Então, se dizer um pouco é, sim, válido... pelo cuidado. Ou, por outro lado, pelo prazer. Agora aquela afirmação, aquele "sou assim, vejo assim"- não, não vale. Não vale se colocar dentro de um cubículo, de uma salinha com a porta entreaberta. Não vale ficar se servindo dentro da mesma salinha daquilo que tem certeza que gosta, ou fugindo daquilo que diz não gostar. Aquilo que a gente realmente é não merece isso. Por isso não vou nada longe no "quem sou eu". Sou, somos muito. Sou a loucura de não me afirmar, de não me trancar, de não me servir o tempo inteiro. Sou a ousadia de entrar em grupos que não encontro nenhum, ou quase nenhum traço meu. Sou a coragem de encarar a incompreensão, os incompreendidos. Sou a vantagem de fazer isso que falei e me sentir mais. Sou lágrimas, um rio de lágrimas. Mas, já dizia um poeta do romantismo- "...porque lágrimas também são amor." E o que mais sou? A tentativa. A tentativa do tiro certeiro, do retorno. A tentativa de tentar. E o que menos sou? Nada. O que menos sou é nada. O que menos sou é nada, que não é aquilo que menos queria ser. Mas como sou até aquilo que não quero- o que menos sou é nada. Se sou uma pessoa da alma? Talvez. Mas acho que mais "de alma", do que "da alma". Pertencer profundamente é muito difícil. Agora ser repleto de qualquer coisa, é tentativa. Se mudo muito? Cresço muito. A mudança é mais brusca. A gente mudou ou não mudou. Já o crescimento não é "cresceu" ou "não cresceu". É mais suave, respeita mais a condição humana. E o crescimento não finda, não enquanto houver esperança. Agora a mudança, ela é calada e recomeçada a cada percurso. A mudança não tem caminho. Ela tem o caminho que a vida, do nada, exige. Agora o crescimento, não. Ele vai junto por todos os caminhos. E que caminhos são esses? Não me exijo... mentir, também. Me exijo! Traço umas rotas, caio em umas emboscadas. Se descubro os caminhos? Os caminhos que tracei, sim. Mas há sempre o outro, nem que o outro seja caminho nenhum. Essa é a graça da vida. Ou melhor: essa é a graça da imaginação. Se não houvesse, imaginaríamos o que? O futuro? um futuro de mão única não abre margem, abre angústia. A imaginação é do sorrateiro, é do oblíquo, é do matreiro. E assim somos nós: uma pessoa "de mão única" não deixa aquele espaço da mente do outro preenchido pela curiosidade. Pode até deixar em uns primeiros momentos, por não deixar. Mas cansa. E só fica o cuidado de alguns, a vontade de outros de não deixar essa mão única fazer de uma vida- uma vida que não se leva com valor de"única". Agora quando a "mão" não é única, quando a restrição é mínima, ou as tentativas de que seja o são, a curiosidade do outro vai longe. A nossa curiosidade vai longe. As aberturas não só abrem margem para os outros- como, antes mesmo disso, abrem margem para nós mesmos. Não ter uma ideia só, um olhar só, uma imagem só, não só tira a gente do "só" nos outros, como coloca a gente no "muito" em nós mesmos.
Quem sou eu? O que vale ser? Vale ser tudo? Vale não ser? Vale, vale ser, vale não ser, vale! Quem sou eu? alguém que vale ser. Quem és tu? outro alguém. Quem somos nós? vários, que valem, que se valem, e que se valeriam mais, se deixassem valer, se pudessem deixar.
R.A 11/03/11

quinta-feira, 10 de março de 2011

Um minuto para as palavras, elas merecem.

(correndo, correndo, correndo...)
Tenho adorado os comentários que tenho lido, as palavras que tenho escutado, as coisas em pedacinhos de papel que tenho recebido, as palavras anotadas em cantinhos de folha pra não serem perdidas. Tenho adorado! Tenho amado esse carinho, esse retorno bonito...
Há uns meses, conversando com uma amiga minha, perguntando pra ela o que cada palavra que ia dizendo lembrava... Disse "vontade" e ouvi "Richelli". Guardei isso! Achei bonito! Achei bem bonito! E ontem, fazendo a mesma coisa com outra amiga, disse "alma" e ouvi... "tu". Acho que nem deu pra guardar ainda de tão grande... sinceramente.
A gente corre, corre, corre... faz, faz, faz... E confesso: parar pra mim é complicado também, e muito. Tem sempre uma coisa nova pra mexer, pra saber, pra descobrir... pra decifrar. E tem sempre uma coisa antiga que ainda merece a mesma atenção. Parar é complicado! É mesmo!
Mas daí a gente se depara, quando a gente menos espera, com essas palavras, com esses carinhos,... E ah, vale a parada! Vale largar o lápis, o livro, a pesquisa, o caderno,... Vale cair aqui e dizer o quanto isso é maravilhoso!
O dia de amanhã é a incógnita do dia de hoje. Arrumar a mochila, passar a farda,... Tudo isso é muito válido, porque esperar é válido, planejar é válido. Mas mais válido acho que são as palavras de hoje, que sonham com o dia de amanhã. Acho que é o amor de hoje, o afeto de hoje,... que deixam o amanhã inesperado- e esperado... mais doce.
Entre a correria de fazer do hoje um bom dia, e do amanhã um melhor, e do outro ainda mais... Acho que vale a doçura do abraço, do olhar que quer dizer e não sabe, do sorriso com vida,... Acho que vale, entre as correrias, uma parada pra palavra com amor, pra palavra de agradecimento com mais amor ainda.
A doçura, como o carinho, como o afeto, não ocupa um tempo que não se tenha. Pode ocupar espaço, papéis,... Mas esse tempo, não. A única coisa que ocupa esse tempo é falta disso tudo, que faz do tempo um tempo sem tempo.
R.A 10/03/11 (entre o livro e a cama)

terça-feira, 8 de março de 2011

Feliz dia da mulher, MULHERES!

Conheci as mulheres- essas que merecem um dia, um olhar- pela música. Comecei a ter um olhar pra mulher e de quem era a mulher... com a música.

Incrível: quem me fez perguntar "mulheres, quem são, o que são?" foram os homens.

Comecei a olhar pra essa delicadeza que as mulheres têm... com a música. Com as palavras do Vinícius, com a voz do Toquinho... com o encanto deles.

Não sabia o que era a mulher. Vi na voz dos homens apaixonados.

Vi a grandeza da mulher na alegria do poeta, na delicadeza do malandro, na soberania do maestro.

Cresci tão às avessas que posso dizer que não senti a felicidade de ter nascido mulher por qualquer delicadeza feminina próxima. Mas pela delicadeza daqueles homens que tentam, que tentaram desvendar, que se encantaram com a alma feminina.

Nesse dia da mulher, acordei e coloquei um dvd do Chico (à flor da pele), onde ele fala do encanto dele por essa tal alma. E fui ver ele tentar falar disso- e aquela vontade dele de dizer, de expressar, e... e quase se perder de tanto encanto.

Comecei a entender o que era essa palavra "mulher" pelas palavras dos homens. E, volta e meia, me vejo se fazer por essas mesmas palavras...

Acho que sou muito filha dessa música... talvez desses homens mesmo. E vejo uma felicidade nisso: aprendi, antes mesmo de me fazer, o valor da mulher nessa arte do amor, nessa arte da vida...

"Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza, qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer que sente saudade. Um molejo de amor machucado, uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher..." (Vinícius)

Feliz dia da mulher a todas as mulheres. Às mulheres que Chico amou, Vinícius amou, Toquinho amou, Tom amou. Às mulheres tão amadas quanto. Às não amadas. Às que serão amadas, às que foram e não mais. Feliz dia da mulher às mulheres que amam. Às mulheres do molejo de amor machucado, às mulheres sem amor. Feliz dia da mulher, MULHERES!

R.A 08/03/11

Meu medo de criança

Acabo de ler um texto do Carpinejar- "Assombrado pela vida", na revista Crescer. Me fez fazer relações que não esperava. Tinha um trecho que dizia assim- "Desse tempo, compreendi que adulto não soluciona o medo de criança, por querer terminar logo com o susto, dizer que não é nada, que é uma bobagem, que não vale sofrer à toa. Pai e mãe apenas aumentam o terror desprezando as perguntas e a cumplicidade. As crianças pretendem curtir o medo primeiro, desenvolver o suspense. O medo não é uma ameaça, é um modo de fazer amizades. Elas resolvem os pânicos falando deles. A terapia consiste em tão-somente partilhar medos. A gratuidade dos medos. O prazer dos medos. A delícia dos medos.
Um medo coletivo é melhor do que os medos individuais, castrados e reprimidos.
Exercitávamos a ansiedade com minúcia e fantasia. Às vezes contávamos histórias de terror à luz de velas somente para sair gritando. Às vezes alucinávamos em equipe.
Meu pavor sempre teve companhia para amadurecer."
Lendo isso- engraçado, num primeiro instante, não lembrei da minha infância- lembrei do meu "agora". Lembrei de uma amizade, em especial, de hoje- não das de anos atrás- nem das histórias de anos atrás. Foi tudo, por instantes, "de agora". E, de repente, me veio a sensação de ter pulado os papéis que se assume na infância e estar assumindo o papel, agora, já, de quem cuida dela e tem medo de machucá-la. Inacreditável: a vida me pega em umas, em várias. Vou contar o que me veio logo que li:
Muito caminhei pela rua, estive em lugares... escutando os medos de uma amiga minha. Talvez não uma só, talvez outras também. Mas nesse instante- só uma me veio. Muito fiz isso. Só que esses medos eram muito semelhantes aos medos das crianças que Carpinejar fala- e foi. Eram medos feitos pra sentir o medo, o suspense, pra se sentir mais na vida, pra sentir "aquela emoção". E muito fiquei escutando esses medos... Que não eram os medos de uma criança, mas eram os medos da criança- não- mais- criança que prolongava uma parte da infância vida a fora. Que prolongava esse ato de sentir medo, de sentir o suspense... e depois compartilhá-los, fazer amizades assim, laços assim. Lembrei disso, lembrei dessa minha amiga.
Achei muito interessante ter feito- já quando lia- essa relação...E depois, outras mais:
Fui lembrando de como não tive isso... Esses medos pra se compartilhar, esses medos "de grupo", esses medos de infância. Ou, talvez, não bem isso: tive, sim, em algum momento, os medos. Mas toda falta de compartilhamento me fez deixar eles bem antes... pelo caminho.
E... Incrível como essa minha sensação de falta de infância me deu uma estima imensa pela própria infância. Me deu um cuidado, um medo de machucar, de decepcionar, de quebrar algum sonho.
Não brincava de boneca, nem de casinha, ou sei lá quais as brincadeiras que se brincava. Entre as minhas lembranças mais remotas... acho que estão os meus oito, nove anos, e uma escolinha que montei aqui nos fundos de casa pra ajudar as crianças mais novas, ou da minha idade, com os temas. Que foi quando, sem dúvida, comecei a desenvolver essa minha criatividade pra dinâmicas ou, até mesmo, uma coragem, de vez em quando, pra assumir uns grupos. E foi, também, quando, sem dúvida, comecei a desenvolver esse meu cuidado...
Tinha oito anos, mal acredito nisso. Lembro que o marido da minha vó fez cadeirinhas e mesas... várias... pra gente. Eram umas seis, oito crianças... e eu. Eu... e o meu cuidado. Eu e a minha felicidade de poder ajudar. Eu e a minha infância cheia de cuidados com a própria infância.
E daí lembro da Ana dizendo que tenho ainda a mesma "carinha". Olha... acho que tenho mesmo. Mas, também, mais! Não foi agora que comecei a assumir o papel de quem, volta e meia, cuida, como disse- e, sim, lá.
Até o último ano, sustentei uma implicância, uma certa relutância em aceitar a infância que tive... porque ainda era muito presa a ideia do "não ter". Aquela ideia de infância, brincadeiras, não tinha, realmente não tinha (não tenho). Então simplesmente pensava nela como algo "inexistente". Agora, hoje, não: olho e vejo não só uma infância que, sim, tive- do meu jeito, mas tive- mas também algo que me marcou profundamente, que muito me deu. Minha vida- até uns tempos atrás- era uma espécie de placas que se separaram. E pular de uma pra outra- meu Deus, que sacrifício. Hoje- felizmente e mais do que isso- posso dizer que pular de uma pra outra tem sido fabuloso- e os encontros, no outro lado, ainda mais.
A vida nos traz uma grandeza em encontros que volta e meia me tiram as palavras. Sem contar quando a vida traz a nós... nós mesmos.
Lembrar daquela minha amiga que falei- linda, maravilhosa- me fez ir da rua que caminho com ela aos fundos da minha casa. Ler as palavras do Carpinejar- de uma sensibilidade espetacular- me fez ir da guria que sou à criança que fui. E daí olho pra isso e penso: como não ter cuidado com a infância? Esse pedacinho de tempo que foge de uma hora pra outra, mas na lembrança se estende eterno, muito nos faz. Daí olho pra isso e penso: será que esse meu medo, até então escondido -e agora compartilhado- de que não haja cuidado, não é como um medo de criança... da minha criança que ainda sonha com o cuidado? Que ainda espera que digam que há cuidado?
Daí olho pra isso, surpresa, e penso: quanta criança ficou em mim, que tão pouco criança foi. Quanto ficou, também...

p.s.: lembrei de uma frase minha de anos agora: "vocês não precisam ter medo da prof". Disse isso aos sete, aos oito, aos nove, aos dez. Minha liderança sempre se deu de cuidado. E não só por outros, mas por mim também. Dizia pra nos proteger, nos acalmar! Também tinha medo, só não me ensinaram a compartilhar. Mas tinha!
É que ser criança foi mais difícil do que não ser pra mim.


R.A 08/03/11

segunda-feira, 7 de março de 2011

Sabe, as pessoas se perderem faz parte da vida. Faz parte das histórias das várias vidas que se encontram- o desencontro. Afinal, o que são as coisas sem as suas opostas? O que seria do encontro sem o desencontro? O que seria?
Hoje perguntei para uma amiga o que era ser calmo pra ela. De um monte de coisas, entendi que era "não perder o controle com facilidade", "não deixar sentimentos momentâneos tomar conta das situações". Interessante, né? Dois "nãos". A gente define as coisas pelo que elas não são. Todo mundo sabe o que é ser calmo... Agora o que é? é o que não é.
E eu fico pensando... Se as palavras são tão pouco sem as palavras que se opõem a elas... Será que as pessoas também não o são sem aquelas que se opõem também? Se a calma é tão pouco definível sem a pressa, sem a inquietude; se o gostar é tão pouco definível sem o "não gostar", será que a gente não é também tão pouco sem o nosso diferente, sem o nosso "outro"? A falta do que se opõe dá uma sensação de vazio. Aliás, é terrível imaginar- a gente não imagina. Os opostos, às vezes, me dão a impressão de serem como ímãs: a gente mexe com uma palavrinha, quando vê outra foi puxada também- veio junto. Quem é? aquela que não é.
E com a gente? Será que a gente também não é meio assim? Será que a gente- como as palavras- não tem a necessidade de ter por perto aquele "totalmente diferente", aquele que não é? Eu acredito muito que sim.
Há quem diga que isso é meio "necessidade inconsciente de afirmação": a gente precisa ficar dizendo o que é, e pelo que a gente tem certeza que não é. Também acho um pouco. Mas acho mais também: acho que a gente precisa do "bem diferente" não só pela afirmação, mas pela transformação também; porque a gente precisa de um pouco de tumulto, de desafio- se não, mais ou menos como dizia Pessoa- a gente fica à beira de si mesmo. E à beira de si mesmo, a gente não cresce. A gente pode até mudar de aparências e o superficial que o ambiente proporciona, mas aquele andar para frente, ou simplesmente andar, não. O espelho é algo fascinante- se ver, se definir, olhar pra si é algo fabuloso. Mas, às vezes, ficar tanto na frente do espelho, leva a gente a um olhar que só converge, que é cada vez mais de si. Viver cheio de espelhos ou com imagens tão parecidas- molduras tão próximas- é como viver numa busca que só converge, onde o ponto é nós mesmos (viver, acho eu, é muito busca- por nós e por outros). E pra quê uma busca por UM ponto só, se a gente pode ser muito, de muitas maneiras, e ser como vários pontos diferentes e ter várias buscas- bonitas- por nós mesmos (e por outros...). Pois bem- mas a gente só descobre outros de nós, nossas outras formas, vendo o que a gente não é- e vendo o que a gente pode ser. E a gente só descobre com o "diferente", não tem jeito. E se for o "totalmente diferente", como aquela palavrinha oposta, daí sim, daí a gente se coloca no mundo que é uma loucura. Porque daí a gente tem o tumulto de-verdade-mesmo, e quer queira, quer não, é a válvula de escape para o crescimento que leva a gente à vida, como dizem, "assim ó".
Sempre achei as palavras algo fascinante. Esse convívio com o que não são... esse lado a lado. Essa pressa que precisa da calma pra ser apressada. Essa carência que precisa da existência pra ser sentida. Esse alívio que precisa da dor pra ser aliviante.
Sempre achei fascinante! Mas mais fascinante que isso... acho esse mesmo mundo de oposições posto no nosso mundo. A gente sendo assim! A gente se criando pelo convívio, pela divisão do espaço, pelo "ser e não ser". A gente pondo limites, a gente se fazendo, a gente dividindo o espaço com o que não é.
Muito acho que as palavras são tão grandes, e abrigam tanto, por essa relação que estabecem entre uma e outra. Por toda essa ligação! E que quanto mais forte for essa ligação, mais bonita a expressão...
E daí penso:
Não é a arte que imita a vida? E o que são as palavras se não nossa arte?
E daí penso:
Se quanto mais forte for a ligação entre o "ser" e o "não ser", mais bonita essa tal arte das palavras fica... Será que quanto mais forte for a nossa ligação entre o "ser" e o outro que "não é", mais bonita não vai ficar a nossa arte da vida também? será? eu acho. Afinal, a arte imita a vida, sim.

R.A 07/03/11

sábado, 5 de março de 2011

Escrevo sete textos ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo, agora. Sete ideias diferentes, sete sentimentos diferentes, sete loucuras sentidas distintamente. Esse é o sétimo!
Meu Deus, que vida é essa? Que vida é essa que não deixa sentir uma coisa de cada vez? Lembrar um coisa de cada vez, falar uma coisa de cada vez... Meu Deus, que vida é essa?
Estou lendo seis livros. Seis livros- seis autores- seis histórias diferentes. Estou escrevendo agora pra três pessoas diferentes. Uma que sabe que escrevo pra ela, a outra que desconfia, a outra que não existe. Três pessoas- três existências- duas vividas, a outra não mais. Estou lendo seis livros. Erico, Álvares, Caio, Calligaris, Maitê, Darian. Seis nomes diferentes. Se não consigo pegar um só por vez? Não. Deito, todos os dias, ou mais ou menos do que acordei- nunca só o que acordei ou o que fui dormir no dia anterior. E nisso sempre aparece um desejo diferente, ou um já antigo, só que mais forte- ou, um tão forte- e não mais. E assim que vou atrás da história que acho se aproximar mais de mim, mais do desejo. Pego a história que acho que vai tocar mais essa pessoa com esse desejo ainda novo e forte, ou velho e já fraco. E assim vou rodando entre um livro e outro- entre vários livros- entre os seis de agora. Até que vou tanto pro lado de um "tipo" de desejo, que acabo cada um dos livros.
E daí olho pra isso... E me pergunto "por quê"? Por que esse rodízio, esses desejos, esses autores tão distintos? Por que essa loucura?
Hoje cedo li assim no perfil de alguém: Sou minha mãe, minha filha, minha irmã, minha menina.
Li isso- parei. Achei o porquê!
Quando se é um só, já é muita vida pra um corpo. Quando se assume mais de um papel- meu Deus!
Já é normal que a vida nos leve a confusão de nos jogarmos em várias histórias ao mesmo tempo... Já é normal na normalidade... Então como não teria vários livros ao lado da cama?
Aliás, muita coisa é normal! Muita coisa é normal porque a gente quer ser mais do que o corpo, a gente quer ser do tamanho da vida- e a vida, ou as vidas, são muito. Muita coisa é normal- inclusive a confusão.
Aliás, normal é, sim, a gente se perder.
E mais: bonito é, sim, a gente tentar se encontrar. Ainda mais quando a procura é por mais de um dentro de si...
Não há pecado em sermos nós mesmos! E, em certos casos, não há pecado, também, em sermos o papel de outros, que outros não são ou não tiveram a oportunidade de ser. Em sermos por outros! Não, não há pecado nisso. Há coragem e, também, uma certa paixão*! Só isso! Só isso, que é muito, que é quase tudo. Só isso... que são os vários livros na cabeceira...

P.S.: paixão... pela vida, pela gente.
R.A 05/03/11

sexta-feira, 4 de março de 2011

Afinal, quem são eles?

Caetano era calmo. Não, mentira- não conheci Caetano tão bem assim a ponto de dizer algo tão revelador. Caetano, sei lá se era calmo. É que Caetano não era sereno, mas tinha algo de ameno em si- daí chamei de calma. Mas sei lá se era calma! Podia ser outra coisa- outra coisa sem nome- sem definição. Podia ser uma coisa só dele! E como vou saber? Mal sei de mim. Eu sou calma? sei lá! o que é a calma? uma ausência da pressa? Ou uma pressa em ter um passo mais leve, uma voz mais suave, antes que os apressados, afobados, loucos, encantados, alcancem tudo isso? Fica o questionamento! Fica a pouca definição do Caetano.
Já José tinha uma alma livre. Me encantou! Tinha uma leveza! Mas... que leveza? que leveza era essa? De onde surgiu, da onde veio, saía de onde? Mas pera aí... era leveza? Era uma leveza ou era uma paz interior? Era uma leveza ou era uma grandeza? É que conheci pessoas leves, outras pessoas. E eram bem diferentes do José. Elas tinham uma leveza pelo descompromisso com a falta de vida. "A vida é aqui, agora, na gente"- conheci pessoas lindas assim. Mas, o José, não, não tinha só isso. Não tinha só isso impregnado naquela essência toda. Tinha um pouquinho do oposto também: do compromisso com a falta de vida, que os outros leves nunca tinham. E, confesso, achava e acho- e acharei eternamente- lindo isso nele. Aquela liberdade de espírito e aquela coisa presa em si que prezava a liberdade do outro. José- José simplesmente me inspirou. Entrou na minha vida- fez isso- foi embora. Lembro menos do rosto dele do que do rosto do Caetano, que nem sabia se era calmo ou não. Engraçado isso, não? Engraçado e extremamente sincero, verdadeiro. É que a pouca definição que tinha do Caetano exigiu de mim saber pelo menos detalhes mínimos pra descrição, pra formação da lembrança- como os traços do rosto, dos sorrisos. Agora o José- pra quê os traços do rosto- se tinha - se tenho- os traços da alma na alma? Pra quê? Não precisa! Não lembro do rosto do José- porque não preciso.
E já Antônio falava alto. Adorava aquela expressão! Eu adorava! Aquelas palavras ditas, aquelas risadas bem dadas, aquele silêncio que pouco deixava existir. E que só existia quando acabávamos no olhar! Acho que toda definição que não tive do Caetano, foi dada ao Antônio. E a alma livre do José, que fiz uma cópia pra mim, dividi com o Antônio. E mais: a falta da imagem do José, foi o oposto com o Antônio. Foi como se a vida tivesse tirado uma foto dele e colocado no lugar do escuro que há quando fechamos os olhos. Fechei por dias, mese,... vi aquela imagem por dias, meses! Depois passou! E assim mesmo- na troca de uma linha pra outra- passou. Parei de ver- parei de vê-lo por um tempo enorme. Depois senti saudade- depois a alma sentiu saudade- e os olhos, comovidos, aceitaram a imagem de novo. E volta e meia tenho aquele rosto no meu fechar de olhos.
E engraçado tudo isso, não? Caetano ficou na tentativa de definição. José passou da tentativa, foi muito, muito mais longe. Onde foi? não sei ao certo- só que em algum lugar aqui dentro. E Antônio? Antônio de tão definido, ficou sem definição. Some, volta, aparece, não para em lugar algum. Antônio- o que é? o que foi?

P.S.: Mas, afinal, quem são eles? O homem inteiro não cabe em palavras. Já vários pedaços de tantos- sim.
R.A 04/03/11

quinta-feira, 3 de março de 2011

(textos que não sei acabar)

Abro os olhos, acendo a luz. Gosto das cores! Imagina um mundo preto e branco? Não, nunca seria. Tem sempre um raio divino que vem, nos acende- e mostra. A gente ia encontrar as cores. Afinal, tanto a gente encontrou. A luta num desejo, a morte num desespero, o amor nos braços de alguém. Viriam- as cores viriam- porque tem sempre um raio divino que traz! E certos raios divinos- por vezes na terra- trazem até a gente. E estes raios divinos- por vezes mais divinos ainda- são outro alguém.
Que lindo isso, não? Acho belíssimo! E lamentaria não saber descrever isso, transformar essa beleza em palavras; lamentaria se não soubesse que esse é um sentir onde a palavra pra descrição é como um pontinho no plano; lamentaria se não soubesse que não tenho como ter palavras pra isso. É que é um raio, é um lampejo de luz, passa rápido demais pelos olhos e entra fundo, bem fundo. E se aloja aqui dentro, vai ficando, se espalhando, vai iluminando, vai deixando colorido... E daí colocar pra fora e dizer o que é, é quase impossível- é como juntar a luz. Dá? Não, não dá!
E, às vezes, são vários, vários raios, vários lampejos de luz. E a gente quer agarrar eles pra ver o que é, mas não consegue. É que não dá pra agarrar a luz, não dá não.
Tem raios que são fortes, outros que são fracos. Outros que deixam uma luz eterna- como o raio divino das cores, que veio. Outros que não deixam uma luz eterna- mas deixam a luz necessária para o tempo de vida. Outros, a luz necessária pra sobreviver a um dia, outros pra escrever um texto, outros pra montar uma resposta; outros pra outras coisas, pra outros. E essa loucura de raios divinos é o que há de mais bonito! É o que há de mais bonito, porque além de tudo, o raio divino pode ser a gente também! A gente pode cair dentro da gente e pode iluminar! A gente pode ser a luz. A gente pode dar a cor! E me diz- tem coisa mais bonita do que a grandeza de ser? [...]

R.A 03/03/11

quarta-feira, 2 de março de 2011

Acabar com a palavra certa é muito difícil. Retribuir com a palavra certa é muito difícil. Fica sempre aquela pontinha de dúvida, aquela desconfiança, aquela sensação de "tinha algo que diria mais". E isso pode ser cobrança- ou não. Hoje, no meu caso, eu acho que é apenas uma espécie de reação natural de quem realmente preza a expressão, porque preza o sentimento em questão.
A gente é humano- e, ah, é tão bonito ser. Eu sou uma- e muito- que fica devendo na hora de dizer certas coisas. E até quando passo das limitações- continuo ficando em certos casos. E cobrar isso de mim seria desumano.
Gosto da calma. Gosto da pressa também. Acho que todos os lados da moeda, até o ponto em que não travam a vida, são válidos. Porque cada momento é um momento. E cada momento é um momento pra ser vivido. E essa aceitação faz toda diferença! Porque a partir do momento em que a gente começa a aceitar isso- aquela cobrança da palavra certa vai desaparecendo. A gente começa a entrar nas situações mais abertos- porque a gente não sabe o que é, e a gente quer saber. A gente começa a entrar nas situações sem aquela armadura, sem aquela frente bélica, sem aquele muro nos escondendo. E visíveis a gente é mais livre! Sem o muro na nossa frente, a gente vai e volta, se solta. A gente descobre muito. Nessas idas e vindas, a gente vai descobrindo que na próxima ida a gente pode ir mais longe, a gente pode mudar o caminho, a gente pode voltar e ficar o tempo necessário. E assim a gente vai se dando mais liberdade... e mais... e mais... E quando vê- nossa, a gente é livre. E livre a gente não cobra a palavra certa num determinado momento. A gente aceita a palavra que veio- e guarda a que a gente descobriu depois- que era bem melhor- pra próxima vez e, em alguns casos, pra próxima pessoa também. E se não der a próxima- a outra. E assim a gente vai...
Acabar com a palavra certa é muito difícil- é um processo muito difícil. Sim, é!
E não só: é, também, um caminho de palavras não tão certas, pertinentes ou bonitas, andado.... É um baita caminho! E mais: não é um caminho bonito- bonito é a gente andar nele- e ir deixando ele mais limpo, mais aberto, mais percorrido... Bonito é a gente ir deixando as palavras mais bonitas.
Ando, confesso, me deparando muito com tudo isso que falei- com a aceitação, com a liberdade e com a busca. Com essa ligação linda que essas palavras têm. E isso tem me trazido um bem imenso- e tem me tirado aquelas cobranças que é quase normal a gente ter, mas que a gente não precisa- como a palavra certa pra demonstração. Sim, muito ainda não sei dizer. Também ando na espera de uma palavra mais certa, mais bonita. Em alguns casos, até de uma palavra, de uma existência de palavra. Não posso demonstrar toda a delicadeza de um amor só com o claro dos meus olhos. Também busco as palavras bonitas ditas, faladas, deixadas no ar e guardadas no fundo do coração. Só que também não posso fazer dessa busca.... essencial. O que posso é o que parece absurdo: viver a falta de palavra. Porque viver isso é aceitar. E aceitar é se deixar mais livre. E se deixar mais livre, é se deixar buscar. E se deixar buscar é se deixar correr o risco do encontro- e o risco do encontro é lindo. E é lindo porque é o risco de encontrar as palavras mais bonitas...
obs. hoje encontrei até uma frase: "que bonito isso!".
R.A 02/03/11