segunda-feira, 4 de julho de 2011

As pessoas não morrem, ficam encantadas.

Vim dizer que não morri. Até porque... "O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas."- já dizia meu querido... Guimarães Rosa.


Vim dizer que não me esqueci de amar ninguém em nenhum desses dias. Ou talvez não: talvez tenha esquecido, sim- e depois lembrado do quão triste é se perder no tempo, e deixar de sentir o amor.
Vim dizer que me esqueci de amar, sim. Mas que segurei forte o amor dentro de mim, porque é forte, e não deixei que o esquecimento o levasse. Alguma coisa aqui dentro segurou todo o amor, nem fui eu: talvez a própria memória tenha impedido o esquecimento de levá-lo.


Vim contar que me perdi um pouco. E que me encontrei tanto.
Que me apaixonei loucamente nesses dias, que me ausentei de mim e que chorei mais.
Vim contar que perdi o sono durante esses dias todos que de tanta presença e ausência me fiz. Que mal dormi nesses dias, e que preguei o olho porque o cansaço ordenou.
Vim contar que me senti mais sozinha do que nunca... em meio a multidão.
Que li, que me encantei, que fingi decepção.

Vim contar que vivi demais nesses tempos... E que me perdi nos dias justamente por isso. E que talvez esses dias dos quais falo agora... sejam longos meses ou mais.
Vim contar que me perdi no tempo, que desconheço o tamanho das minhas ausências.
É que "o correr da vida embrulha tudo", já dizia também o mestre.
Vim dizer que senti vontade de escrever tantas e tantas e tantas vezes... E que comecei, mas não soube acabar nada: estava tudo embrulhado demais.


Vim contar que quase morri de amor. Que senti raiva, raiva, tanta raiva- que nunca tinha sentido.
Que esgotei. E que disse, sim, "vida, para por uns dias"... mais de uma vez. E que o que tive de volta foi mais e mais vida. E que tive de retomar o passo em meio ao tombo. E retomei.

Vim contar tanta coisa.
Vim contar que mudei. Que tenho um monte de nomes diferentes na minha vida e que me encanto cada vez mais... Com os nomes, com o que há por trás deles... e pelo que não vejo por trás, nem sei se existe... só sinto.
Vim contar que o encanto me fez, e agora não volto mais.

Vim dizer também que a vida é cretina. Mais cretina que aqueles que são felizes a vida inteira. E que, para o meu conforto, descobri que prefiro mil vezes a minha felicidade intermitente a qualquer felicidade perene, que não adianta, não deixa conhecer o gosto de ser feliz.

Vim contar que agora tenho mais medos também. Um pouco pelo cretino do amor, um pouco pela grande felicidade de ser. E um pouco pelos outros também. E que acabo de mentir: não é nada pouco. É um medo imenso.


Vim contar que sumi por tudo isso. E que sumi inconscientemente. E que quando chegava no consciente, a vida corria, girava, enlouquecia, e quando via... não tinha movido um passo para reestabelecer o que vinha sendo deixado.
E deixei tanto, confesso. E confesso que ocupei certos espaços. Mas que ainda amo, mesmo que o que agora ame... seja a lembrança do próprio amor.


Vim contar que ando bem. Que sorrio tudo que posso, que não me nego, que tenho pecado por isso. Que às vezes negligencio a paixão e me contorço de dor. E então desisto. Vim contar que certas vezes, nesses tempos, desisti.


E vim contar... Vim contar da minha vontade louca de me contar. Do quanto o meu olhar tem procurado, e do quanto o meu olhar tem encontrado.


Vim contar que tenho lutado. Que hoje muito menos sinto a dor de ser. E que não tenho me sentido maior: que o que tenho me sentido é do tamanho de tantos abraços. E que a solidão, hoje, ocupa muito menos... mesmo vindo, quando vem, sem medo de ser.


Vim me contar.
Vim dizer que não morri, nem de amor.
Mesmo que nunca tenha amado tanto... confesso, confesso...

R.A. Julho/ 2011