segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Pra alguém...

Amiga,
Me desculpa. Desculpa por ter a certeza de que no fim não te mandarei esta carta... desculpa por ter a certeza de que te escrevo em vão. Desculpa por não ter coragem de dar a cara a tapa, e ir, ir fundo, tentar te ajudar. Me desculpa, mas não consigo. Não tenho a firmeza que parece, ainda sou sensível a tombos, a possíveis empurrões. E tu me empurrarias. Lamento muito por isso, por não poder cair por ti. Porque não posso, agora não posso. Espero, sinceramente, um dia poder. Não por ti, mas por outros. Não por ti porque espero que até lá alguém, qualquer alguém, já tenha dado a cara a tapa, alguém já tenha te dado a mão. Espero muito que tu aceite, que tu segure, e que tu veja logo o que tanto quero te mostrar. Claro, não tem tanta pressa assim. Não te cobraria a esse ponto. Só não queria mesmo que tu perdesses mais desse tempo valiosíssimo, só isso. Mas tudo bem se não der agora, nem nos próximos meses, ou anos talvez. Tudo bem! Claro, fico ainda mais triste por saber que talvez pudesse fazer, e não fiz, e te deixei perder. Mas ok, a gente não vai morrer por isso. Tristeza vem e passa. O que não vai passar logo é minha vontade de poder te ajudar, enquanto tu não fores ajudada. O que não vai passar é meu lamento, é uma certa dor por ti, e pelo mundo lá fora que vive assim também. Quietos, calados, fechados. E é tão triste! Só queria que tu te abrisse pra vida, no que há de verdadeiro nisso. Não é um pedido de afeto, atenção, presença. Não, não é! Aliás, trocaria isso tudo pela tua aceitação. Pela tua tentativa, pelo teu encontro com o que há de mais belo. Trocaria tudo de olho fechado. Mas sei, não é fácil, e sei também que vai demorar. Queria que não! Mas vai... O processo é longo, pesado, talvez tu comece, pare, grita, brigue muitas e muitas vezes. Ok, tudo bem! A gente pode voltar e tentar de novo... Mas, sim, queria muito alguém pra te levar nisso tudo, mostrar a ti que não dói, ou que não dói tanto. Queria muito alguém aí, agora, contigo, pra te mostrar o quão lindo é o que alcançamos com isso... Queria muito, e queria muito que pudesse ser eu. Mas não dá! Lamento a cada vez que te vejo, a cada vez que te olho, e que teu olhar foge cheio de incompreensão. Lamento, mas ainda digo: vai chegar! E espero te encontrar depois... te encontrar e me sentir talvez até mais leve... Te encontrar e me sentir mais feliz vendo o quão mais viva te tornaste! E lembrar do quão bonito é chegar, e do quão bonito é ver o outro chegar também. Então, de verdade, me desculpa!
R.A 20/11/10
Vejo a vida passar. Me dá um frio na barriga, e umas sensações estranhas que ainda não sei dar nome. Queria deixar isso mais poético, mais na essência do que é, mas é muito, e pouco sei. Queria dizer o quanto tenho sentido com isso e quanto tudo isso tem sido sentido por mim. Não sofro, não choro na maioria das vezes, quase que não acho triste. Vejo a vida passar, e a vejo, simples assim, mais nada. Não tem muito o que dizer, apesar da imensidão a se sentir. Tenho sido abrigo da saudade, de uma satisfação, um pouco de lamento também. Tenho abrigado bastante nessa mudança, nesse passar do tempo. Tenho estado firme nesse fim de fase, nisso que me mostra um tempo que corre, e que não espera muito não. Tenho visto as coisas mudaram, uns sorrisos se apagarem, outros se abrirem outra vez. Tenho visto meu irmão que acabou de nascer com quase três anos. Tenho visto meu outro irmão, até pouco tempo atrás criança, grande, alto, forte. Tenho visto minha avó, insana, um pouco mais quieta. Tenho, também, encontrado traços que não encontrava na minha mãe. Tenho visto cabelos brancos, em vários. Tenho, também, nem visto mais vários. E, assim, podendo imaginar o que mudaram, o que cresceram, o que deixaram de ser, me dando até certa inspiração, por saber que o tempo, como uma garantia, me trará surpresas boas, como oportunidades de reencontros, que juntam duas novas pessoas, mas com, ainda, boas velhas lembranças. Enfim, tenho visto a vida passar, várias vidas, pela minha, e por outras. Tenho visto beleza, encanto. Tenho visto tristeza, vontade, esperança. Tenho sentido algo forte, ardente, mas, ao mesmo tempo, incrivelmente leve. Tenho sentado aqui, várias vezes ao dia, com uma sensação estranha de não poder descrever o que sinto. De que tenho sentido mais a cada minuto. De que é tudo imenso demais a meus olhos... e não me canso de ver, de encontrar. Tenho sentado aqui, parado um pouco, pensado em mim, em outros. Tenho tido, não é novidade, uma vontade imensa de parar mais ainda. De poder olhar o máximo possível. De poder encarar essa mudança, essa vida que passa. De poder dizer que fui, e que serei mais. E, mais ainda, tenho sentado várias vezes aqui para dizer, pensar, também confessar, que não consigo ver tudo, abraçar tudo, abranger demais, porque não posso, porque não tenho braços suficientes pra isso. E que não acho ruim, e que não dói. Muito pelo contrário: me encanta. Tenho sentado aqui, várias vezes ao dia, pra dizer que essa imensidão de vida me encanta, me encanta...
R.A 26/11/10
Não me vem ideias. Queria te escrever agora, mas estou cansada, bem cansada, bem menos pra cima do que gostaria, do que costumo estar. Queria estar aí contigo agora, mas não posso. Chato isso, odeio essa limitação que a distância nos dá, e ainda mais essa limitação que o cansaço nos dá, nos privando de poder quebrar a barreira, fazer de conta que há encontro, criar um encontro, forjar tudo no papel. Mas não, não me vem ideias que me façam criar algo que diminua isto, que reproduza isso, que tire um pouco o peso da distância. Não me vem nada! Nenhuma história, nem sequer um personagem perdido pedindo encontro. Aliás, mal me vem palavras pra acabar isso que escrevo agora. Só sei que não as tenho direito, que tenho cansaço, um quase dó de mim por não saber parar um pouco, descansar, encostar a cabeça; por não saber deixar que seja metade, um terço, ou nada; por querer que seja sempre inteiro, ou que não haja, e seja ao menos compreendido; só sei que ando com um sentimento estranho por mim mesma, não sei o que é... Por não saber dividir meu espaço entre o que preciso ter e ser, e o que posso compartilhar e dividir; quero ser mais, e quero que o outro seja ainda mais também. Esgoto assim! Canso, caio, me derrubo um pouco! Claro, levanto, adoro esse processo. Adoro poder ser assim, adoro ser assim. Mas não sei se não ando passando dos limites... se não ando passando a ponto de chegar a momentos como este em que quero te escrever, te ter um pouco, e não posso, porque já tive e fui demais por um dia só. Será? Será que não ando sendo e tendo demais? Será que não ando abrigando demais, dando a mão demais, e ficado cheia demais depois, sem espaço pra tudo, sem um pouco de espaço pra mim? E, será que a vontade de ajudar, doar-se, não anda tão grande que já chega a ser um pouco de vontade de fugir, correr, ir pra outro lado que não meu? E, será que essa vontade revestida por outra, não é mais que um pedido de "pare" novamente? Parar de pensar, de sentir, de ter, de ver, de viver isso tudo! E dá? Acho que não. E acho que chega por hoje também. Cansei, cansei...
R.A 29/11/10

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Desculpa, eu vou ter que usar a maquiagem...

Se tu soubesses a dor de cabeça que tu me deste depois que tu foste, teria voltado na mesma hora. Digo isso não pelo amor que sei que sustentavas, mas pelo respeito que sei que tinhas por mim. Levei um tapa na cara, sabia? Acho que virias nem pelo respeito, mas pra me defender, isso sim. Sei que virias, e sei, também, que virias, e só, porque não tem como vir. Não tem! Que dor, que dor! Porque, hein? Que tipo de brincadeira foi essa que me derrama lágrimas a todo minuto? Hein, que brincadeira foi essa? Lembrei agora sabe de que? Da gente rindo. Como a gente ria, não? Como a gente era feliz! Como a gente era! E agora? Agora sei lá, sei lá mesmo. Minha cabeça dói, levei um tapa na cara, não saio na rua de vergonha do roxo que ficou, e que não consigo de jeito nenhum disfarçar. Ah, já tentei de tudo. Aquele bando de maquiagem que tu odiavas, tive que usar, sabia? Elas andam vindo aqui em casa, daí tentei me cobrir um pouco! Não deu certo! Aliás, nem os óculos escuros consegui ficar por muito tempo naqueles dias. Lembrei agora! Acho que ainda precisava ficar de olhos abertos, bem abertos e bem atentos pra ver se não te via vindo, se não te via vindo me dizer que, ah, brincadeira de mal gosto, não? E a impressão que os óculos escuros me davam eram de que, a qualquer momento, ia fechar meus olhos, ninguém ia ver, e não ia ter forças pra abrir de novo. Queria tá mais alerta a possíveis "brincadeiras de mal gosto". Mas... eu desculpava! Aliás, desculpo tudo, e hoje ainda desculpo, então se tu quiseres voltar (tá, já vou parar), não tem problema, juro que não é tarde demais. Juro que não fingirei como todas as vezes que erraste feio, e fingi te odiar. Aliás, que exagero, não? Nem me lembro disso! Não me lembro de quase nada! Tô meio sem vida, e que pena, não? Sempre gostei tanto dela. Tanto, tanto, tanto. Que foi isso, droga? Que foi isso! Tô meio sem vida, e tu, ah tu sem vida também. E o que eu faço? espero? Ok, espero. Não tem problema! Preciso de tempo mesmo. Tempo pra chorar, pra arrumar as coisas, pra criar outras, pra tudo. Ok, aceito o tempo! Mas, tenho uma condição: vou usar a maquiagem que tu odeia, ok? é que não me sinto mais a mesma, aquela que tu gostava de rosto limpo, do jeito que era. Desculpa, viu? Mas não posso. Vou precisar usar porque não sou a mesma, não me encontro mais, não sou do jeito que era, e preciso, preciso sim me olhar no espelho, me procurar aqui, dizer que vivo, e que vou recomeçar. E pra isso preciso encarar o mundo lá fora também, e pra isso preciso ajeitar a cara amassada de que não vive há dias... ok? juro que um dia não uso mais, e que um dia serei tão livre de novo que vou achar essa coisa de se mostrar pro mundo vazia demais pro meu inteiro, como antes... antes da tua ida. Viu bem? Vou melhorar. Mas eu sempre, sempre vou buscar aquela que um dia tu amou, porque era inteira, e quero tanto, tanto ser inteira de novo. Quebrei ao meio e todo mundo disse: vai passar. Te confesso, não sei como não virei e saí andando. Até se fosse um "vai melhorar", tudo bem, aceitaria. Mas foi frio demais, "vai passar"! Ando pesando muitos as palavras, coisa que eu evitava fazer o tempo inteiro pra não criar uma adoração a menos pelo outro. Mas agora tenho feito o tempo inteiro. Parece até uma certa indignação minha pela felicidade do outro que leva ele a esse conformismo extremo. Tá, isso eu nunca fui, conformada, mesmo muitíssimo feliz. Essa coisa toda sempre me tocou! Mas mesmo assim entendia o outro nessa história toda. Só que agora não tem jeito, toda palavra pesa, todo carinho é pouco, toda mísera falta é demais. Tá tudo um monstro, uma catástrofe. Lembra aquela peça que a gente viu em Paris uma vez, linda, encantadora, que me tocou? Minha vida tá virada nisso, uma procura, uma busca pelo significado da essência das coisas. Ou não, das coisas não, simplesmente disso: dessa ida. Tenho até acredito na minha força, em todo blábláblá, mas tá difícil. E até vou te deixar agora. Passar a maquiagem no rosto, encarar o espelho, não me sentir a pior pessoa do mundo, e andar na rua de novo, escondendo aquilo que tu chamavas de "a coisa viva" (lembra? isso é o vivo da gente...), mas que eu desacostumei e tenho chamado de "a coisa morta". Desculpa pela maquiagem... desculpa por ter que esconder o rosto, e o resto. Desculpa, eu vou ter que usar ela. Sei que tu odiavas, dizia que escondia a beleza, apesar do mundo lá fora achar que ressaltava (amava isso em ti: teus conceitos de beleza, de simplicidade, de ressalta). Vou lá, passou da hora já. E tenho encontro marcado. Sabe a Beatriz? Tá grávida. Fiquei feliz. Ou não: fiquei maquiada. Escondi a dor, e sorri. Desculpa por isso: pela falta de beleza, pela pouca simplicidade, e pela ressalta de que sofro mais do que tento. Desculpa! Me desculpa por toda essa maquiagem...
R.A 23/11/10

Mandei cartas...

Não sei se me acharam louca, insana, sensata, sensível, carente. Não sei se conseguiram descobrir um pouco de mim. Queria muito que sim. Queria, mas se não passou disso, desse desejo, tudo bem. Confesso que acho que não é nada fácil descobrir o outro, nem que seja um pouco do outro. Acho difícil, complicado, complexo, e todos os outros adjetivos que eu possa dar pra isso. E não é julgamento, não é repúdio, nada disso. É apenas uma certa consciência de que somos muito, e mais do que isso. De que somos repletos do que não se sabe, do que não se vê. Mostrar é difícil e conseguir ver, talvez tão quanto. Talvez nem tenha mostrado muito, e talvez eles, se mostrei, nem tivessem olhos pra ver. De novo, não julgo! Mas, ainda sim, acredito que tentei mostrar, e que acho que houve tentativa de descoberta, sim; e acredito que posso dizer, também, que ah, foi ótimo. Achei linda a tentativa, tanto a minha quanto a deles. Achei lindo o encanto, e achei lindo até o que encontraram em mim e que talvez não exista do que jeito que pensam, imaginam. Aliás, eu talvez seja bem menos em matéria, conteúdo, do que pensam. Não me importo com isso. Afinal, mesmo, no fim nem tentei mostrar exatamente isso: matéria. E sim um pouco de interior, de sentimento, do meu encanto pelo que há de belíssimo e que consigo ver em cada um. Enfim, não sei o que conseguiram ver, e se sequer viram alguma coisa. Não posso dizer! E tudo bem. Porque talvez se vissem a louca, insana, sensível, sensata, e todo resto de contradições que defendo ser, acreditassem que não sou, que não sou esta. Porque, afinal, fui em algum momento tudo isso?
R.A 20/11/10 (Fragmento)

E é novo aqui?

Já tenho algo novo habitando aqui. Mais um. Mais novidade. Já tenho mais um sinal, mais um aviso, mais uma descoberta. Tenho um aperto no peito agora. É meio medo, é meio satisfação. Não faz mal, mas pesa. Às vezes vem mais forte, às vezes bem mais fraco. Não dói na maioria das vezes. Geralmente é só angustiante. Já falo "geralmente", viu? É que ele anda bem presente. É novo, mas já penetrou fundo. É um aperto determinado, sabe onde quer chegar. E chega. Toca onde quer tocar, e toca forte. E não tem origem certa, às vezes vem nas coisas mais diversas possíveis. Às vezes vem no abraço, e às vezes vem em simples coisas perdidas, como folhas, anotações. Às vezes nem precisa da presença de nada, vem sozinho, é só deitar, encostar a cabeça, que ele vem. Aperta, sufoca um pouco, e vai depois. O que ele deixa? não sei. Até não diria que deixa, mas que leva. Leva um pouco da minha certeza, da minha segurança. Fico quieta, calada, meio sem reação. Às vezes choro, às vezes rio. É que ele traz de tudo um pouco, aí que tá. Traz muito, e no fim não tem o que deixar, porque tudo já se foi também. Não tem mais o viver, talvez, o que mudar. Posso até dizer que deixa uma certa vontade de fazer de novo ou não repetir, ser alguém diferente. Mas nada mais que isso! Não deixa nada mais! E ainda, quando não vem assim, vem trazendo o que não existiu, e que deveria ter existido. Daí sim, daí dói. Mas... acho que nem sei dizer porque esse aperto surgiu. Talvez saiba, mas a resposta seja óbvia demais, e ainda sofra daquela velha dificuldade de ver de perto, porque sempre meu olhar vai atrás de algo mais a diante. Então, acho que só sei mesmo que algo novo tem habitado aqui. E, que talvez também, não seja tão novo assim quanto eu pense. Talvez seja de anos e mais anos, desde que as coisas definitivamente saíram do lugar e o perderam. Só que, agora, talvez tenha aberto espaço aqui, aberto espaço pra coisas como esta. Talvez tenha me aberto! Ou, talvez, esteja num início de processo e não saiba ainda quando e como fechar a porta que tenho aberto pra certas coisas; talvez não saiba ainda quando posso abrir, quando devo, e se realmente tenho espaço pra tudo isso. Enfim, dúvidas! Mas não tenho morrido não, isso posso dizer... Tudo que tenho sentido foi isso de que falei, e isso que sinto agora: um pouco de aperto aqui dentro, e uma sensação de estar maior que antes... mais cheia, mais completa, com mais vida... E inteiramente encantada por tudo isso: pelo que vai, não volta, pelo que vem e fica...
R.A 20/11/10

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Lindo isso! Acabei de receber um telefonema. Acabei de chorar também. Acabei de me sentir uma pessoa melhor, mais bonita, mais inteira. E tudo isso na essência dessas palavras mesmo. Na essência, na beleza delas. E não me disseram muita coisa, nada que eu já não soubesse. Tudo que fizeram a mais foi me deixar ciente de que, de vez em quando, consigo ser o que sou, o quero ser, ou quase isso. Que consigo dar apoio, dizer que estou aí, de verdade. E não falo isso pra mostrar que posso a vir ser isso, porque acredito que, claro, desconsiderando certas coisas, todo mundo pode vir a ser um pouco assim. A questão é "ser" e ter encanto por isso. Achei lindo esse retorno que tive, e não porque veio, poderia não vir, mas porque algo existiu de verdade que o levou a vir. Belíssimo isso, não? Até chorei. E não choro com frequência. E, ainda mais, nunca tive a oportunidade de chorar por algo lindo, bonito. Por isso chorei. Porque cheguei ao contato que queria, a essa troca lindíssima de apoio, a esse laço inconfundível que me liga a essa vontade de fazer um bem pro outro, um bem pra mim, e seguir em frente novamente, mesmo que o laço se quebre, mas cada vez mais ciente do quão bonito é dar a mão. Simplesmente isso, simplesmente doar-se...
R.A 18/11/10
Ando com uma segurança imensa de mim mesma. Não tenho mais aquela dúvida do que serei daqui a dois minutos. Ando calma, estável e, ao mesmo tempo, aquela inovação de sempre. Só que agora é uma inovação saudável, carismática, nada que pula, extravasa, sai correndo de dentro atrás de abrigo. É serena, sabe o que quer, e não foge. Muito pelo contrário. Fica e me completa. Fica, me faz companhia, e não me arranca o que tenho. Não é uma inovação exigente, imponente, pretenciosa e, acima de tudo, espaçosa. Sabe seu espaço, sabe compartilhar, sabe dividir, sabe o que é do outro, sabe o que deve continuar e sabe do que pode ocupar o lugar. É bonita, não me cobre, não me cobra. É o que esperava, e é exatamente o que espero pro outro... É uma licença pra mim mesma, um medo a menos, uma sensação de alívio. É nada mais que uma oportunidade de ser eu mesma, e de poder ser eu mesma, porque não me deixo mais a cada instante, e sim construo... e, sim, não destruo mais o que pode ficar, o que pode ser meu, e o que pode vir a ser eu...
R.A 19/11/10

sábado, 13 de novembro de 2010

Já é tarde. Mas ainda tenho dúvidas. Tenho dúvidas desde cedo, não sei que horas eram, não sei nem que dia era pra falar a verdade. Só sei que já faz um tempo, um tempo talvez não tão curto como o resto do tempo de dúvidas normais. Já é tarde, e ainda não sei a resposta. Ainda não sei a resposta, pois ainda não sei qual a pergunta direito. As coisas andam confusas, as ideias pouco concisas, pra variar. Tá tudo meio enrolado aqui, e eu não sei direito por onde começar. Sei que não sei se fiz a coisa certa, sei que... não sei mais nada. Não sei se me arrependi, se quero voltar atrás, se quero ver se posso voltar atrás, se o outro ainda está lá. Não sei se quero! Não sei se quero, por que não sei exatamente o que ando querendo. Digo, num minuto, que quero um outro alguém que não seja eu. No outro minuto, digo que quero a mim somente, porque preciso encontrar-me mais e mais, porque quero, neste momento, encontrar-me mais e mais. E? E o que faço? Sabe o que isso me parece? Me parece o vazio. De novo. Num momento quero a mim somente, porque quero suprir o que não me deixaram ser quando deveria, ou simplesmente compreender o que não fui, o que não foram. Porque quero analisar, descobrir, desvendar o inteiro que me encanta. E, num outro momento, quero ao outro, a um outro, porque tá pesado carregar o material sozinha. Tá pesado, tá cansativo buscar formas, jeitos, coisas diversas pra preencher o que tá em branco ainda, sozinha. Num momento quero só a mim porque confio em mim, e sei até onde consigo ir. E não é perto. Num momento quero só a mim porque tenho medo de possíveis estragos, mais estragos, que sejam feitos mais uma vez por outros, que não eu. E, em outro momento, quero confiar, quero ceder, quero ver no que dá. Quero ver o que o outro pode me dar! Quero me descobrir em conjunto, mas nem sei se me descobri sozinha, e quero me descobrir sozinha. Enfim, estou num dilema. Não me traz tristezas, não me traz grandes angústias, NÃO MAIS! É um pequeno desconforto, é vontade, é apenas uma certa sede maior de descobertas, de vida. E falo isso porque sei que a resposta que falei que espero virá! E virá eu indo para qualquer um dos lados. Virá até se eu parar no meio do caminho. Talvez um dos lados me leve a um caminho mais curto, outro a um mais longo, outro a um tempo indeterminado de percurso. Mas não tem problema! Tenho dúvidas, várias por sinal. E gosto das respostas... gosto muito! Mas, ainda gosto mais dessa diversidade de ideias, desse conflito saudável que não me traz dor alguma, só me traz perspectivas maiores, entendimentos maiores e mais completos. Disse que estava meio enrolada, dei justificativas bem verdadeiras pra isso. Não nego, estou. Mas ao mesmo tempo digo infinitamente que posso estar mais perto do entendimento do que penso, do que sinto. Pois ando me deixando entrar em conflito, em possíveis indagações, e nada melhor que isso pra esbarrar em compreensão. Enfim, não vou dizer mais, porque acho que já disse o bastante. Já disse o bastante para eu mesma compreender que apesar de não saber se devo abrir espaço ao outro, ou não, continuo inteira, e cada vez mais encantada: encanto imenso pela nobreza da alma que nos possibilita enganos, quedas, medos, dúvidas, e humildade de confessar-se um pouco de tudo isso... e confessar-se meio vazia, meio perdida, mas completamente encantada pelo que há, pelo que reside, pelo que abandona, pelo que deixa de ser, e pelo que virá a ser em nós mesmos segundos seguintes a este...
R.A 13/11/10

domingo, 7 de novembro de 2010

Sinto tua falta. Sinto tua falta nessas horas, horas sem falta alguma. Sinto tua falta quando falto, quando calo, quando escrevo, quando uso dessas coisas fúteis que odeio, mas que tu me ensinaste a quase suportar. Sinto tua falta quando quero sentir falta de outro, quando penso que sou feliz, quando arrumo coisas aqui, mas continuo sentindo que tem algo fora do lugar. Sinto tua falta quando leio, quando escrevo, quando me deito, quando apago a luz, e lembro que não, é melhor deixar a luz ligada, lembra? Sinto tua falta quando corro por aí, quando caminho com passos curtos, devagar, coisa de quem tá meio sem rumo, sabe? Sinto tua falta até quando sou eu por inteiro. Olha que incrível! Sinto tua falta até quando sou completa, sou do meu jeito, daquele jeito que tu pouco sabe definir. Sinto falta disso, da tua pouca definição de mim. Sinto falta de como tu olhas, do teu olhar cheio de carinho, da tua falta de olhar, do teu olhar que foge. Sinto falta do teu sorriso, do teu carisma, e da tua cara fechada pra coisas tão, tão simples. É, sinto muita falta disso: da tua simplicidade e da tua complicação. Sinto falta dos teus atrasos, ou melhor, sinto falta de te esperar. Sinto falta do teu silêncio, das tuas histórias tão longas que ficava horas tentando escutar atenta, mas que no fim sempre achava tão igual a do dia anterior. Sinto falta disso: da tua repetição com o outro e da tua tentativa de inovação contigo mesma. Sinto falta de te achar cada vez mais linda. Sinto falta de te dizer o quão linda está. Sinto falta do teu olhar que pede admiração, do teu olhar que foge de possíveis críticas, do teu olhar que pede pra ser olhado. Sinto falta de poder te olhar, de poder achar cada vez mais bonito tudo isso que disse antes. Sinto falta da tua repulsa por coisas quase desprezíveis por mim, e sinto falta mais ainda da tua forma de encarar coisas quaisquer, dando a elas o brilho que só tu tem. Sinto falta da tua diferença, da tua soma, da tua risada inesperada, do teu olhar de incompreensão, das tuas surpresas previsíveis, e de mim. Sinto saudade de mim tentando, a cada dia que passava, ser nova pro teu encanto, porque era isso que pedias: o novo. Sinto falta de ti pedindo continuamente novidade. E sinto falta de mim, continuamente, pedindo que tu te repetisses, porque adorava imensamente o teu "antes", o teu sempre.
R.A 07/11/10

sábado, 6 de novembro de 2010

Entre linhas... ou entrelinhas...

Olha, creio que nunca te disse nada disso; e, creio ainda, infelizmente, que talvez nunca, nunca te direi; creio, calada no meu silêncio, ou nessa parte de dentro que grita, que realmente não sei se te direi o que eu nunca te diria no final disto aqui; mas, juro, tentarei; buscarei justificativas, talvez até inexistentes, que me façam falar; sim, lembrarei de ti dizendo que “posso, posso..”; mas, creio ainda, que não posso te garantir que dizendo ou não serei explícita em momento algum; e, talvez ainda, isso que venha a ser escrito seja como o todo aqui dentro, de comportamento pouco definível, mas totalmente verdadeiro; olha, não vou te mentir, não vou dizer que não, que não sinto, e que não deixo de sentir de vez em quando; sim, sinto, sim, deixo; aliás, sou de uma normalidade quase anormal, sabia? sabe... eu sinto, eu fujo, eu engano, eu me calo quando verdadeiramente tenho que calar-me, pois pouco mais posso dizer em palavras; compreende? Ok, mas vou parar de enrolar... E, nessa parada, tenho algo a confessar-te: nada vou te dizer do tudo que gostaria; nada, de forma explícita, direi, como vim tentando, juro que vim. Desculpa ter te enganado até aqui. Desculpa ter te feito pensar que diria. Lamento, viu? Lamento, mas me perdoo ao mesmo tempo. Porque sei que engano algum há e houve... E, deixo-me assim te enganar, porque sei que não te engano... Que engano algum existe. Porque tu sabes, desde a palavra que não verbalizo ao meu eu que grita, tudo, tudo está no meu olhar que te fixa, que te olha a procura de um eu a menos, ou, de forma mais bonita, de uma existência tua, ou de um outro alguém tão inteiro, que caiba nos meus braços, que caiba no meu abraço; Mas, volta... Ainda tenho que pedir desculpas. Viu bem? Sei que não posso acabar sem desculpas. Sei que não é bem assim “perdoar-me”, deixar-me ser o que não devo porque continuo “sendo”. Por isso te imploro, nem peço, te imploro desculpas. Porque eu sei, sei que não tento por completo, como disse que tentaria e sei, também, que mesmo sabendo da inexistência dele, do engano, sei que continuo a ser eu, eu; então, se posso ser eu mostrando-te quem sou, pra que cultivar meu silêncio? Sei que não devo, mesmo que ele, sim, esteja querendo dizer muito... Sei que não devo, porque, infinitamente, posso ser mais viva que isso, sendo aquela expressão que tu tanto queres... Enfim, peço-te desculpas por me calar, por admirar o que não devo, e quem não me merece... Peço-te desculpas por confessar-te um silêncio que cativo... Peço-te desculpas por não saber se consigo ser o que digo que posso ser, e pelo resto também, que continuo a omitir, mas que tu sabes, que tu sabes, que tu sabes...
R.A 05/11/10

Ao som de Let it be

Sou incessantemente inspirada... Sabia? Sou, ah sou. Talvez nunca tenha confessado, talvez nem pra mim mesma. Mas agora confesso. Agora confesso que nunca, nunca mesmo, estive inteiramente sozinha em minhas expressões, palavras ou silêncios. Por que confesso só agora, não sei. Aliás, nem sei por que confesso agora. Talvez uma simples vontade de valorizar o externo. E me sinto muito bem por isso, acredita? Extremamente bem. Me sinto bem por, pela primeira vez, não colocar apenas... Nossa, não tenho nem palavras exatas pra isso. Acho que é "apenas coisas pesadas e de dentro" ou somente "coisas pesadas de dentro". Me sinto bem por, pela primeira vez, não colocar só coisas pesadas no papel, isso mesmo. Olha... Vou te dizer, sei que não te digo nada te dizendo isso, e que, sei, não devo estar dizendo nada mesmo. Só que a mim digo tanto, mas tanto... Que se tu soubesses o quanto, deixaria de ler isso com os olhos, simples olhos que indagam, e leria com a alma, como eu escrevo agora. É que tão, tão bom deixar-se. Estou deixando-me! Estou me dando espaço te dando espaço... E tu és o que há lá fora. Olha, se tu soubesses o quanto estou dizendo no que digo, me verias, a partir de hoje, com outro olhar. Mas, não tem problema! Não tem problema não entenderes, afinal nem disse nada. Disse apenas que incessantemente inspiro-me, e que incessantemente deixou-me ser inspirada. Eu sei, tudo que podes entender é o que está no papel agora, simples coisas soltas. E, tudo que posso explicar-te é que são coisas soltas mesmo, e que aí está o valor.
R.A 05/11/10
Tanta, tanta vontade de se chorar! Tanta vontade de um abraço, de um carinho, ou de alguém aqui, agora, simplesmente pra falar da falta de tudo isso! Ah, que vontade! Ah, que vontade de dizer o quão grande tenho me tornado... e o quão pequena tenho me sentido! Ah, que vontade! Que vontade de falar de afeto, de amor, ou de qualquer coisa que preencha. Ah, que vontade de ser preenchida por outro, e não por mim, por mim, por mim! Ah, que vontade! Que vontade de gritar, que vontade de me calar também! Que vontade de te encontrar, de encontrar resposta, de encontrar existência, de encontrar a tua existência na minha própria existência! Nossa, que vontade! E é tanta, tanta, tanta, que nem tenho como dizer mais. Que não tenho como preencher mais linhas... porque tudo que tenho é vontade de ser preenchida, só, e só...

R.A 04/11/10

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Droga, terei de dormir hoje! Por que, né? Irrito-me com essas coisas. Aliás, é incrível! Poucas coisas me irritam. Às vezes até me forço a achar que elas nem existem. Por que e pra quê, né? Pois é, mas esta irrita. Só de pensar que vou perder seis horas deitada numa cama brincando de sonhar coisas das quais nem tenho conhecimento, porque algum tipo de brincadeira faz com que eu não me lembre de nada... É, nem isso! Nem sonhos lembráveis e decentes eu tenho. Tudo é um bando de coisas desnecessárias e inexistentes. Tá, mas eu não vou ficar me provocando aqui. Vou ter que dormir, e pronto. Terei! Nossa, me veio algo tão ruim... É, ruim, talvez seja essa a palavra... Agora, agora mesmo, neste instante. Foi meio que um encontro com pensamentos perdidos, geralmente tenho. Veio-me a seguinte indagação: como, mas como que alguém se dispõe, por "vontade", a dormir pra sempre? Hein? Sim, entendo perfeitamente os milhões de motivos que rondam tais atos. Eu não entendo é a conformidade de quem continuando vivendo! Sim, isso mesmo! Eu, aqui, querendo viver mais e mais e mais, infinitamente, e alguém vai lá e simplesmente acaba-se, deita-se, mal dá boa noite, e deixa, deixa-se, nos deixa. E nós os deixamos! Meu deus, é nessas horas que me rendo. Sim, é nessas! É nessas horas que me rendo a sentimentos, a lágrimas, a dores aqui, outras ali, uns lamentos também. É nessas horas, pensando coisas do tipo "minha vontade rebelde, talvez pretenciosa, de não querer dormir, porque me ocupo com o mundo, e amo fazer isso", que me encontro com esse lado verdadeiríssimo meu. Esse lado de encanto por nós mesmos. E não só pela vida que nós levamos, e pelo que construímos e somos e pensamos, mas pelo que tem dentro, bem dentro, de cada um. Olha, nem sei dar nome, vou te falar bem a verdade... Diria apenas que é "algo maior", algo maior que me encanta, e me pede, a cada encontro, que eu me deixe encantar mais e mais... Olha, me surpreendo, sabia? De verdade! Eu chego aqui muitas vezes querendo dizer apenas "existo, penso, acho, creio..."... E saio daqui dizendo sempre mais, muito mais... Hoje, talvez, dizendo nada muito definido, apenas que "algo maior" me encanta, e que algo maior se cria, se manifesta, a cada grito, perda, a cada voz que se cala pra sempre... Porque mais viva fico, e mais vivo quero que um mundo lá fora fique também... com queda, com medos, com vozes sem som, mas com recomeço... Isso que digo: de tudo, quero apenas chance de recomeço... Pra mim, pra ti, pra nós.
R.A 02/11/10
Queria saber falar de coisas diversas, como esse início que começo agora, diverso, mas que sei, tem um fim quase que determinado, e nada diverso, apenas inverso, controverso. Queria saber falar de poesia. É, isso mesmo. Queria saber falar de versos de verdade, versos de amor, ou de qualquer coisa que arda, que queime, que te acenda por dentro, mas que não te mate a cada palavra, gesto, expressão. Não estou reclamando, ok? O que quero dizer é que queria saber falar de míseras coisas. Queria apenas saber falar de nada! Falar de nada, isso mesmo. Mas não esse "nada" que é a minha falta de fala, mas aquele nada mesmo, que é nada, que a gente dá o nome de alguma coisa na hora, que a gente transforma na hora, na hora que a gente quer. Isso mesmo! Era disso! Era aí que queria chegar: queria me deixar chegar aí. Mas pera aí, tu estás me acompanhando? Porque também tenho esse problema: corro na frente, e esqueço de parar. Mas, se tu não tiveres entendendo, pode bater no meu ombro no fim da corrida e dizer "olha, queria ter te alcançado, mas tu não me deixou". É que tenho medo e corro, corro, corro, e sei disso. E sabe de quem corro? do nada. Eu corro do nada! não é de ti, mesmo! Estou passando, vejo ele ali, o nada, quero parar, quero perguntar das coisas fúteis, dizer que o dia tá bonito, e o quanto eu amo dias bonitos, dias de sol, um céu aberto só pra nós. Mas não! Não me deixo! E corro! É meio louco, eu sei, estar te contando isso, mas precisava, precisava dizer porque não te espero, e porque, às vezes, não me espero. E é simples, juro que é simples, que não é nada mais do que isso, apesar de chato, pesado e, às vezes (odeio confessar essa parte), um tanto arrogante. Mas, ainda juro, não é por mal. É só medo! Só isso! Só o meu medo... o meu medo de encontrar mais do que um nada quando solto-me, quando paro... apenas isso: medo de encontrar mais vazio, mais vazio, mais vazio... medo de que o nada seja outro vazio, e só.
R.A 02/11/10