segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

PINHEIRA

Alguma coisa ao longe pede lugar na paisagem. Encobre o imenso, faz o azul encontrar o verde. Deixa pouco espaço, se impõe. E tanto, que quando some, faz falta, traz lamento. Alguém bem perto pede espaço no coração. Fecha os buracos, traz delicadeza, traz carinho. Usa figuras, canta paisagens. Fala ao vento, toca com amor. Alguém, um pouco mais longe, ou melhor, um pouco menos perto, pede palavra. Diz seu espaço, não pede, não chora. Mas como a coisa, some também, e deixa a falta. Alguém, na verdade dois, são tão dois, que quase viram um alguém. Um canta cantado, o outro canta sorrindo. Não falam de amor, fingem soprar o vento para outros lados, mas esse vento é tão lindo, que pra lado algum vai, que não pro lado do próprio lado. Alguma coisa se estende, gigante. Não precisa pedir espaço. Não se fala em fim, apenas se junta ao céu num lugar que não existe, mas se vê. E alguém aqui- acaba no encanto. Pelas montanhas chamadas de morros, sumidas no ar que não aquece, por alguém que pouco diz. Pelos morros chamados montanhas pela boca de quem só quer presença. E pelos morros não chamados... porque o encanto do mar ocupa todos os olhos da princesa, pequena Clarissa.
R.A 31/01/11

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Me ausentei. E não é por falta da vontade de presença. É por uma presença maior que eu. É por algo que já não sei mais dizer em palavras, é por algo que não se diz. É por um certo desejo de não restringir. De não tornar menor, ou de um tamanho que exista. Me ausentei. E não porque chegou a hora da ausência ou faltou encontro. Não por isso. Mas porque a hora da ausência passou e ando num encontro sem hora pra acabar...
R.A 21/01/11

domingo, 2 de janeiro de 2011

Não escutei quando criança "é hora de dormir". Sempre tive a minha hora. Nasci tendo a minha hora. Minha mãe saiu por aí, não me mostrou a hora dela, o momento dela. Meu primeiro contato com o mundo não foi compartilhado. Não foram duas vidas que viviam um momento. Foram duas vidas, dois momentos distintos. Nasci já em outras mãos. Outras mãos que pouco eram disponíveis a mim. Nasci em outras mãos e com o tempo essas mãos já não tinham mais tempo pra me segurar, pois outros precisavam dela. Nasci em outras mãos e em pouco tempo tive de tornar as minhas fortes o suficiente pra segurar a mim mesma. Nunca ninguém me mostrou hora alguma. Via o relógio da maneira que bem entendia. Se quisesse ver um tempo que passasse mais lento, podia. Se quisesse um tempo que voasse, podia também. Mas não. Vi um relógio com o tempo de se viver, o tempo suficiente de sobreviver a cada dia. E, vendo assim, cresci antes da hora. Soube determinar momentos certos, atitudes corretas, laços indispensáveis, tudo antes da hora. Consegui ver um caminho, um encanto, uma luz, tudo antes da hora. Tudo antes da hora deles. Me deram olhos só meus e uma vida. Fiz dela minha. Ninguém nunca me disse a hora de parar, a hora de seguir. Não parei na hora certa, não segui quando devia, várias vezes. Mas podia ser assim, porque era sozinha, ainda criava meu tempo. Aliás, ainda crio. E, ainda penso, quando me deparo com vidas cheias de horas, regras, certos ou errados, como a minha seria diferente. Como os gostos seriam diferentes... os prazeres, os encantos. Provavelmente nesse exato momento, palavra alguma existiria nesse papel. Provavelmente a voz ao fundo não seria de quem canta, e a hora que diz ser madrugada não diria nada. Mas, tudo é o que há, pois um dia nessa vida houve silêncio. E, palavras dizem hoje, porque ontem calaram... E, sou hoje, enfim, porque ontem não foram.
R.A 31/12/10

sábado, 1 de janeiro de 2011

Primeiros minutos de um novo ano. Primeiro pensamento, primeiras vontades. Primeira sede de novo, primeira saudade, primeiro aperto no peito. Primeiro pensar no que não disse, no que não pode ser mais dito, no que não cabe mais em palavras. Primeira música ao fundo, primeira bossa nova, primeiras palavras de um novo começo, de uma nova data no fim dos textos, de novos velhos meses. Primeira inspiração, primeira junção de papel e escrita. Primeiro pensar em ti, primeiros desejos... Primeiros, primeiros... primeiros já velhos, já ditos, já vividos. Primeiras coisas novas, entre vidas que se assustam com mudança. Primeiros sinais. Primeiro pensar em recomeço, em luz. Primeiro pensar em dar as mãos, se entregar de alma. Primeira vontade de dá de cara com a vida. Primeiras de mais um, mais um da tão esperada vida de muitos. Primeiro medo, primeira angústia. Primeira dúvida. Primeira vontade de encontro. Primeira inquietude. Primeira esperança. Primeira grande esperança. De saberes, de amor, de carinhos. Primeira satisfação, primeiro pulsar sentido forte aqui dentro. Primeiro momento de loucura, de sensatez. Primeira vontade de chorar, primeiros indícios de quem vai continuar sorrindo. Primeira vontade de sentir mais. E primeira vontade de continuar sentindo a eterna vontade de vida. Primeiros, primeiros... e que sejam, já no dia de amanhã, não mais. Que já haja novos, que acorde nova, que renasça todo santo dia. Todo santo dia de ser feliz. Ou, simplesmente, todo santo dia de se viver. Que venha, que seja! R.A 01/01/11