terça-feira, 23 de novembro de 2010

Desculpa, eu vou ter que usar a maquiagem...

Se tu soubesses a dor de cabeça que tu me deste depois que tu foste, teria voltado na mesma hora. Digo isso não pelo amor que sei que sustentavas, mas pelo respeito que sei que tinhas por mim. Levei um tapa na cara, sabia? Acho que virias nem pelo respeito, mas pra me defender, isso sim. Sei que virias, e sei, também, que virias, e só, porque não tem como vir. Não tem! Que dor, que dor! Porque, hein? Que tipo de brincadeira foi essa que me derrama lágrimas a todo minuto? Hein, que brincadeira foi essa? Lembrei agora sabe de que? Da gente rindo. Como a gente ria, não? Como a gente era feliz! Como a gente era! E agora? Agora sei lá, sei lá mesmo. Minha cabeça dói, levei um tapa na cara, não saio na rua de vergonha do roxo que ficou, e que não consigo de jeito nenhum disfarçar. Ah, já tentei de tudo. Aquele bando de maquiagem que tu odiavas, tive que usar, sabia? Elas andam vindo aqui em casa, daí tentei me cobrir um pouco! Não deu certo! Aliás, nem os óculos escuros consegui ficar por muito tempo naqueles dias. Lembrei agora! Acho que ainda precisava ficar de olhos abertos, bem abertos e bem atentos pra ver se não te via vindo, se não te via vindo me dizer que, ah, brincadeira de mal gosto, não? E a impressão que os óculos escuros me davam eram de que, a qualquer momento, ia fechar meus olhos, ninguém ia ver, e não ia ter forças pra abrir de novo. Queria tá mais alerta a possíveis "brincadeiras de mal gosto". Mas... eu desculpava! Aliás, desculpo tudo, e hoje ainda desculpo, então se tu quiseres voltar (tá, já vou parar), não tem problema, juro que não é tarde demais. Juro que não fingirei como todas as vezes que erraste feio, e fingi te odiar. Aliás, que exagero, não? Nem me lembro disso! Não me lembro de quase nada! Tô meio sem vida, e que pena, não? Sempre gostei tanto dela. Tanto, tanto, tanto. Que foi isso, droga? Que foi isso! Tô meio sem vida, e tu, ah tu sem vida também. E o que eu faço? espero? Ok, espero. Não tem problema! Preciso de tempo mesmo. Tempo pra chorar, pra arrumar as coisas, pra criar outras, pra tudo. Ok, aceito o tempo! Mas, tenho uma condição: vou usar a maquiagem que tu odeia, ok? é que não me sinto mais a mesma, aquela que tu gostava de rosto limpo, do jeito que era. Desculpa, viu? Mas não posso. Vou precisar usar porque não sou a mesma, não me encontro mais, não sou do jeito que era, e preciso, preciso sim me olhar no espelho, me procurar aqui, dizer que vivo, e que vou recomeçar. E pra isso preciso encarar o mundo lá fora também, e pra isso preciso ajeitar a cara amassada de que não vive há dias... ok? juro que um dia não uso mais, e que um dia serei tão livre de novo que vou achar essa coisa de se mostrar pro mundo vazia demais pro meu inteiro, como antes... antes da tua ida. Viu bem? Vou melhorar. Mas eu sempre, sempre vou buscar aquela que um dia tu amou, porque era inteira, e quero tanto, tanto ser inteira de novo. Quebrei ao meio e todo mundo disse: vai passar. Te confesso, não sei como não virei e saí andando. Até se fosse um "vai melhorar", tudo bem, aceitaria. Mas foi frio demais, "vai passar"! Ando pesando muitos as palavras, coisa que eu evitava fazer o tempo inteiro pra não criar uma adoração a menos pelo outro. Mas agora tenho feito o tempo inteiro. Parece até uma certa indignação minha pela felicidade do outro que leva ele a esse conformismo extremo. Tá, isso eu nunca fui, conformada, mesmo muitíssimo feliz. Essa coisa toda sempre me tocou! Mas mesmo assim entendia o outro nessa história toda. Só que agora não tem jeito, toda palavra pesa, todo carinho é pouco, toda mísera falta é demais. Tá tudo um monstro, uma catástrofe. Lembra aquela peça que a gente viu em Paris uma vez, linda, encantadora, que me tocou? Minha vida tá virada nisso, uma procura, uma busca pelo significado da essência das coisas. Ou não, das coisas não, simplesmente disso: dessa ida. Tenho até acredito na minha força, em todo blábláblá, mas tá difícil. E até vou te deixar agora. Passar a maquiagem no rosto, encarar o espelho, não me sentir a pior pessoa do mundo, e andar na rua de novo, escondendo aquilo que tu chamavas de "a coisa viva" (lembra? isso é o vivo da gente...), mas que eu desacostumei e tenho chamado de "a coisa morta". Desculpa pela maquiagem... desculpa por ter que esconder o rosto, e o resto. Desculpa, eu vou ter que usar ela. Sei que tu odiavas, dizia que escondia a beleza, apesar do mundo lá fora achar que ressaltava (amava isso em ti: teus conceitos de beleza, de simplicidade, de ressalta). Vou lá, passou da hora já. E tenho encontro marcado. Sabe a Beatriz? Tá grávida. Fiquei feliz. Ou não: fiquei maquiada. Escondi a dor, e sorri. Desculpa por isso: pela falta de beleza, pela pouca simplicidade, e pela ressalta de que sofro mais do que tento. Desculpa! Me desculpa por toda essa maquiagem...
R.A 23/11/10

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