sexta-feira, 4 de março de 2011

Afinal, quem são eles?

Caetano era calmo. Não, mentira- não conheci Caetano tão bem assim a ponto de dizer algo tão revelador. Caetano, sei lá se era calmo. É que Caetano não era sereno, mas tinha algo de ameno em si- daí chamei de calma. Mas sei lá se era calma! Podia ser outra coisa- outra coisa sem nome- sem definição. Podia ser uma coisa só dele! E como vou saber? Mal sei de mim. Eu sou calma? sei lá! o que é a calma? uma ausência da pressa? Ou uma pressa em ter um passo mais leve, uma voz mais suave, antes que os apressados, afobados, loucos, encantados, alcancem tudo isso? Fica o questionamento! Fica a pouca definição do Caetano.
Já José tinha uma alma livre. Me encantou! Tinha uma leveza! Mas... que leveza? que leveza era essa? De onde surgiu, da onde veio, saía de onde? Mas pera aí... era leveza? Era uma leveza ou era uma paz interior? Era uma leveza ou era uma grandeza? É que conheci pessoas leves, outras pessoas. E eram bem diferentes do José. Elas tinham uma leveza pelo descompromisso com a falta de vida. "A vida é aqui, agora, na gente"- conheci pessoas lindas assim. Mas, o José, não, não tinha só isso. Não tinha só isso impregnado naquela essência toda. Tinha um pouquinho do oposto também: do compromisso com a falta de vida, que os outros leves nunca tinham. E, confesso, achava e acho- e acharei eternamente- lindo isso nele. Aquela liberdade de espírito e aquela coisa presa em si que prezava a liberdade do outro. José- José simplesmente me inspirou. Entrou na minha vida- fez isso- foi embora. Lembro menos do rosto dele do que do rosto do Caetano, que nem sabia se era calmo ou não. Engraçado isso, não? Engraçado e extremamente sincero, verdadeiro. É que a pouca definição que tinha do Caetano exigiu de mim saber pelo menos detalhes mínimos pra descrição, pra formação da lembrança- como os traços do rosto, dos sorrisos. Agora o José- pra quê os traços do rosto- se tinha - se tenho- os traços da alma na alma? Pra quê? Não precisa! Não lembro do rosto do José- porque não preciso.
E já Antônio falava alto. Adorava aquela expressão! Eu adorava! Aquelas palavras ditas, aquelas risadas bem dadas, aquele silêncio que pouco deixava existir. E que só existia quando acabávamos no olhar! Acho que toda definição que não tive do Caetano, foi dada ao Antônio. E a alma livre do José, que fiz uma cópia pra mim, dividi com o Antônio. E mais: a falta da imagem do José, foi o oposto com o Antônio. Foi como se a vida tivesse tirado uma foto dele e colocado no lugar do escuro que há quando fechamos os olhos. Fechei por dias, mese,... vi aquela imagem por dias, meses! Depois passou! E assim mesmo- na troca de uma linha pra outra- passou. Parei de ver- parei de vê-lo por um tempo enorme. Depois senti saudade- depois a alma sentiu saudade- e os olhos, comovidos, aceitaram a imagem de novo. E volta e meia tenho aquele rosto no meu fechar de olhos.
E engraçado tudo isso, não? Caetano ficou na tentativa de definição. José passou da tentativa, foi muito, muito mais longe. Onde foi? não sei ao certo- só que em algum lugar aqui dentro. E Antônio? Antônio de tão definido, ficou sem definição. Some, volta, aparece, não para em lugar algum. Antônio- o que é? o que foi?

P.S.: Mas, afinal, quem são eles? O homem inteiro não cabe em palavras. Já vários pedaços de tantos- sim.
R.A 04/03/11

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