segunda-feira, 7 de março de 2011

Sabe, as pessoas se perderem faz parte da vida. Faz parte das histórias das várias vidas que se encontram- o desencontro. Afinal, o que são as coisas sem as suas opostas? O que seria do encontro sem o desencontro? O que seria?
Hoje perguntei para uma amiga o que era ser calmo pra ela. De um monte de coisas, entendi que era "não perder o controle com facilidade", "não deixar sentimentos momentâneos tomar conta das situações". Interessante, né? Dois "nãos". A gente define as coisas pelo que elas não são. Todo mundo sabe o que é ser calmo... Agora o que é? é o que não é.
E eu fico pensando... Se as palavras são tão pouco sem as palavras que se opõem a elas... Será que as pessoas também não o são sem aquelas que se opõem também? Se a calma é tão pouco definível sem a pressa, sem a inquietude; se o gostar é tão pouco definível sem o "não gostar", será que a gente não é também tão pouco sem o nosso diferente, sem o nosso "outro"? A falta do que se opõe dá uma sensação de vazio. Aliás, é terrível imaginar- a gente não imagina. Os opostos, às vezes, me dão a impressão de serem como ímãs: a gente mexe com uma palavrinha, quando vê outra foi puxada também- veio junto. Quem é? aquela que não é.
E com a gente? Será que a gente também não é meio assim? Será que a gente- como as palavras- não tem a necessidade de ter por perto aquele "totalmente diferente", aquele que não é? Eu acredito muito que sim.
Há quem diga que isso é meio "necessidade inconsciente de afirmação": a gente precisa ficar dizendo o que é, e pelo que a gente tem certeza que não é. Também acho um pouco. Mas acho mais também: acho que a gente precisa do "bem diferente" não só pela afirmação, mas pela transformação também; porque a gente precisa de um pouco de tumulto, de desafio- se não, mais ou menos como dizia Pessoa- a gente fica à beira de si mesmo. E à beira de si mesmo, a gente não cresce. A gente pode até mudar de aparências e o superficial que o ambiente proporciona, mas aquele andar para frente, ou simplesmente andar, não. O espelho é algo fascinante- se ver, se definir, olhar pra si é algo fabuloso. Mas, às vezes, ficar tanto na frente do espelho, leva a gente a um olhar que só converge, que é cada vez mais de si. Viver cheio de espelhos ou com imagens tão parecidas- molduras tão próximas- é como viver numa busca que só converge, onde o ponto é nós mesmos (viver, acho eu, é muito busca- por nós e por outros). E pra quê uma busca por UM ponto só, se a gente pode ser muito, de muitas maneiras, e ser como vários pontos diferentes e ter várias buscas- bonitas- por nós mesmos (e por outros...). Pois bem- mas a gente só descobre outros de nós, nossas outras formas, vendo o que a gente não é- e vendo o que a gente pode ser. E a gente só descobre com o "diferente", não tem jeito. E se for o "totalmente diferente", como aquela palavrinha oposta, daí sim, daí a gente se coloca no mundo que é uma loucura. Porque daí a gente tem o tumulto de-verdade-mesmo, e quer queira, quer não, é a válvula de escape para o crescimento que leva a gente à vida, como dizem, "assim ó".
Sempre achei as palavras algo fascinante. Esse convívio com o que não são... esse lado a lado. Essa pressa que precisa da calma pra ser apressada. Essa carência que precisa da existência pra ser sentida. Esse alívio que precisa da dor pra ser aliviante.
Sempre achei fascinante! Mas mais fascinante que isso... acho esse mesmo mundo de oposições posto no nosso mundo. A gente sendo assim! A gente se criando pelo convívio, pela divisão do espaço, pelo "ser e não ser". A gente pondo limites, a gente se fazendo, a gente dividindo o espaço com o que não é.
Muito acho que as palavras são tão grandes, e abrigam tanto, por essa relação que estabecem entre uma e outra. Por toda essa ligação! E que quanto mais forte for essa ligação, mais bonita a expressão...
E daí penso:
Não é a arte que imita a vida? E o que são as palavras se não nossa arte?
E daí penso:
Se quanto mais forte for a ligação entre o "ser" e o "não ser", mais bonita essa tal arte das palavras fica... Será que quanto mais forte for a nossa ligação entre o "ser" e o outro que "não é", mais bonita não vai ficar a nossa arte da vida também? será? eu acho. Afinal, a arte imita a vida, sim.

R.A 07/03/11

Um comentário:

  1. P.S.: (para- uma- amiga- que -espera -as -minhas - palavras) Daí fiquei pensando nisso tudo... Se isso é verdade, será que eu não me faço "mais" contigo? Sim, né?! Acho incrível como as coisas se encontram, se relacionam, se cruzam. INCRÍVEL MESMO! E, de uma forma ou de outra, como as coisas se perdem também... e como elas ficam. A gente se perder, eu acho que seria algo bem da vida, sim- e bem da grandeza dessa. Afinal, só se perde o que se encontrou. E só se sente... quando é grande. Sim, a gente se perder seria bem da vida- mas que tal deixar essa vida louca pra lá- e se deixar mais feliz...?! Que tal, hein? Afinal, só há conforto, quando há paz. E a paz, às vezes, quando não sempre, é estar bem com o nosso "tumulto". Acho linda a nossa amizade, e acho lindo como isso me conforta, e acho lindo como estarmos bem me traz uma paz imensa. Às vezes eu acho que a gente é duas palavrinhas, sei lá quais (ou um monte delas), que funcionam como os ímãs que falei. Nunca vi a vida ser tão fraca na hora de desfazer esse tipo de ligação. Ou melhor: nunca vi essa ligação ser tão forte, que a vida até cansa na hora de pensar em separar...

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