quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Fuga

Odeio adormecer. Odeio, odeio, odeio. E não adianta, meu corpo pede, implora, chegar a me deixar de vez em quando... mas não, não adianta, eu continuo odiando. Por quê? Porque eu odeio ME deixar. Odeio ficar longe de mim, sem qualquer tipo de ligação que me prenda a esse interior que me move. Tá certo que não sou das mais presentes, das melhores amigas, daquele tipo de pessoa que se ama 24 horas por dia. Não, não sou. Não sou presente por inteiro, e já disse isso várias vezes. Não me amo tanto assim e, também, não sei dizer se sou minha melhor amiga, quiçá se sou boa amiga. Creio, sinceramente, que sim, sou. E isso simplesmente porque no fundo, talvez nem tão fundo, deixou-me ser o que sou. Apenas por isso! Mas, como ia dizendo... odeio adormecer! Podia, sim, dar motivos mais "convincentes", do tipo "tenho medo de não acordar" ou "acordar é muito difícil" ou, simplesmente, "odeio". Mas, não, não posso. Odeio por um motivo grande e este motivo sou eu. Odeio por mim. Por uma parte não tão pequena de mim. E porque essa parte é sozinha, e quando adormeço, a deixo. Talvez propositalmente, creio. Mas, ainda odeio adormecer, porque ao voltar a mim de novo, ela continua ali, só que, dia após dia que passa, a impressão que se cria é que ela está cada vez mais sozinha, a outra parte de mim. Por isso odeio adormecer, porque a impressão que tenho é que, ao deixar-me, dou liberdade ao vazio, e ele simplesmente se espande mais e mais, e na volta me cobre de dor. Por isso odeio adormecer! Porque, enquando vivo, ciente de que vivo, ainda consigo controlar o vazio, e consigo fazer dele uma parte da parte talvez inteira de mim. Entende? Odeio adormecer, porque enquanto vivo, finjo, fujo.

R.A 27/10/10

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