quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Onde está o começo? Onde está o fim?

Não restava nada. Nenhum detalhe... Está escuro, e só. O que se passava na minha cabeça aos nove, penso todo dia... É que a única lembrança é tão explosiva, ou implosiva, que me delimita qualquer outro tipo de pensamento. Tudo aos nove é um raio de memória, uns gritos, e um corte. O corte, apesar de profundo, é mais estreito que o normal. É como se toda dor se restringisse a um só ponto, em uma só fincada. E eu me remexo na cama dia após dia, noite após noite, segundo após segundo, à procura dessa falta do perdão que me corrói. Sabe... Eu não sei, sinceramente. Sei que a vida é engraçada e dolorida quase que ao mesmo tempo. Sei, também, que só escrevo porque tento, minuto a minuto, encontrar paz, interior, paz interior, e só. Porque eu poderia contar das coisas completas, das coisas que me completam, do céu azul, de como o sol me faz bem... Mas não, escrevo porque há dor, há mágoa, há frieza demais... E eu fujo, e na fuga me perco. Eu sei... Eu sei de tudo. Eu sei do início, que tanto me causa dor. Eu sei do fim, que tanto me é familiar, e sei, também, de todo resto. Todo resto! Sei o que me falta, sei do que sinto saudade... Sei por que não durmo, porque amo tanto o lado de lá da vida, e sei, ainda, o que não tem aqui e eu gostaria mais do que tudo ter. Então me diz... Em que parte me cabe parar para chorar se a cada pedaço de mim eu sinto aquela dor penetrar devagar cada vez que eu me afasto mais? Me diz, porque se o escuro tanto me atormenta, eu permaneço aqui? Já faz tantos anos... Mas o que são três, quatro, cinco anos para a perda? Talvez uma vida não seja nada. E o que se faz com as trocas que vêm com o tempo? Ou melhor, o que se faz com o tempo? Permite-se chorar...? Ou esconde-se atrás dele? E eu me remexo mais... E mais, e mais... Ao deitar todo dia, penso: hoje eu vou parar. É... Mas a gente não para é no fim? E o fim? Onde é o fim? Tem um fim? Eu quero um fim! E eu juro... Eu juro que eu queria perdoá-lo. Eu juro, mas minha alma não me permite. A parte quebrada dela não me permite... Não sei. É que eu só queria um fim pra esse conto, para a falta desse amor, para o incompleto que há dentro de mim. Eu queria paz, queria distância, e queria ainda inexistência. Ou seja, eu só queria de tudo, um nada, enfim.

R.A 04/09/10

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