sábado, 4 de dezembro de 2010

Estou aqui sentada numa mesa no canto de uma festa. Tem velas nas mesas. Umas já se apagaram, outras não. A minha não. Tem casais rindo em outros cantos. Tem gente dançando na pista. Parecem felizes. E eu, não. Talvez porque esteja quieta e sozinha. Talvez porque esteja esperando a minha vela apagar. Talvez porque esteja observando, e faça-os lembrar de depressivos em bares, que fumam cigarros e olham atentos o que há de vivo no outro, e que já desconhecem. Mas, é só aparência. Não estou assim, não cheguei, nesse momento, a estado algum perto desse. Não que nunca tenha chego. Muito pelo contrário: cheguei, sei como é, por isso digo, não estou assim. Mas, ainda estou numa mesa, sentada a observar. As músicas trocam, mas as cenas se repetem. Volta e meia tenho vontade de levantar e dançar, mas é uma vontade "solitária". Nada de compartilhamento. Precisava que todos saíssem para aí sim fazer isto. É uma sensação estranha de querer estar consigo. É uma vontade de encontro, de expressão, e certo quê de reserva. E, ao mesmo tempo, uma vontade de estar atenta aos passos de outros, aos caminhos que vem a seguir, as marcas que vem a deixar. Estou aqui, sentada, porque gosto dessa observação, desse contraste que vejo entre esse lado de cá do salão e o lado de lá. Entre essa minha vontade de estar atenta a qualquer traço, e a vontade dos que estão lá, de deixarem-se livres de qualquer atenção. Estou aqui, tá quase escuro do lado de cá. As luzes mal chegam, tudo que ilumina é uma vela pequena que tá quase se entregando, que tá quase se apagando. Acredito que dure mais uma hora ainda, talvez meia, talvez bem menos. Mais uma ou meia hora em que ficarei atenta. Em que olharei, sentirei vontade, darei risadas sozinha, acharei uns ou outros cativantes nos passos; mais uma hora pra ver conversas de canto, olhares, infinitas trocas. Mais uma ou meia hora pra sentir certa tristeza por não poder ser maior pra abrigar todas aquelas vidas, todas aquelas histórias, todas aquelas dores, quedas, medos, angústias. Certa tristeza por não poder ver mais do que mostram ou o que certos olhares escondem. Certa tristeza por estar quase escuro, por não haver ninguém pra ver de perto aqui, por a música estar alta, e todos eles estarem longe e serem mais do que posso ver. Mais uma hora, também, pra certa felicidade de sentir em cada cena certo quê de encontro, e por saber que, apesar de não eu e não comigo, outros se encontrarão e outros encontrarão essências. Outros sentirão aperto no peito, ou qualquer outra coisa que os faça mais vivos. Enfim, estou sentada aqui. Essa vela tá se entregando. Tem gente indo embora, tem gente se soltando lá no meio da pista, me fazendo rir; tem gente rindo, tem gente largando a mão do outro, e tem uns que ainda nem a deram. Estou sentada aqui, às vezes me olham, às vezes questionam também. E não sei se queria que entendessem um possível por que. Gosto deles como são. Gosto justamente porque o são. Então, vou continuar sentada aqui, esperando a vela apagar. Vou continuar olhando, buscando, procurando. Vou continuar a ser encantada, cativada, motivada. E, se quiserem, posso continuar até a depressiva que me veem. Aceito, desde que seja a parte ainda viva, a parte que busca, que olha. A parte viva que não gosta do escuro, que gosta do encontro, que tenta um encontro. Posso ser o que quiserem, posso até nem ser vista no fundo do salão. Desde que eles sejam eles, e eu, viva o suficiente pra enxergá-los. Ah, estou indo já, a vela se entregou antes e não gosto do escuro. E não gosto da falta do que ver, e não gosto da falta do que encontrar...
R.A 04/12/10

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