sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Hoje acordei com uma vontade louca de embarcar num avião, e sair por aí. Mas um avião mesmo. Não um taxi, um carro... E, sim, um avião. Queria voar, parar do outro lado, que não sei onde, nem como é. Hoje acordei com uma vontade louca de ser. De gritar. De abraçar o mundo. De conhecer cada canto. De parar onde eu quiser. De sentir um pouco de encanto, um pouco de amor, um pouco de dor, tudo no mesmo dia. De sentir despedidas também. De conhecer, dar a mão, e soltar ela depois, mas ainda ficar com aquela sensação do toque, do ardor. Hoje acordei com sede ser. De ser mais, de ser menos. De me largar um pouco. De ser um pouco de tudo. De poder. De negar. De dizer sim. Hoje acordei com uma vontade louca de não ser esperada em canto nenhum. Ou de quebrar esperas. E de ir a cantos onde eu seja uma, qualquer uma, mais uma. Hoje acordei com uma vontade louca que chamariam de rebeldia. Mas hoje, também, acordei com uma vontade louca do que eu chamo de liberdade. De poder ser a qualquer hora, a qualquer minuto. E de não ser também. Hoje acordei, senti tanto, não pude fazer nada. Não tinha avião nenhum, nem taxis, nem carros... Não tinha nada que abrigasse tudo isso que falei. Então levantei, botei o pé no chão, e me senti. Senti que não tinha nada a se fazer, mas que tinha a mim. Então saí. Saí correndo por aí. Me usei, fiz de mim tudo que poderia ser feito por mim. Saí sentindo, fazendo de conta que voltaria em meses, anos, e que todos aqui seriam novos quando voltasse. E que quando voltasse, voltaria a sentir encanto pelos que ficaram. Saí correndo fazendo de conta que voltaria nova também. Que seria outra. Que seria mais. Saí correndo, não sei quanto tempo fiquei, se foram horas, minutos... Não sei se consegui sentir metade do tudo que acordei com vontade de sentir. Mas acho que foi uma simulação válida essa de sair por aí. Válida, louca. Senti o vento na cara, senti olhares... Senti a parte de cá do mundo. E me surpreendi. Voltei, era nova. Saí fazendo de conta, e entrei no encanto de criar. Voltei mais leve, mais livre. Entrei em casa, olhei pra uns, e ri. Desci as escadas, encontrei outros, senti vontade de chorar. Abri a porta do quarto, me joguei. Me senti pequena... Aquilo que disse que estava com uma vontade louca de sentir. Me senti quase nada, e tanto... Encarei o mundo, voltei pra casa. Não atravessei oceanos, não cheguei a lugares que não sabia que existiam. Não descobri cantos, gente, culturas. Fui aqui perto. Descobri o meu canto. Fui correndo, foi rápido, voltei logo. Não parei pra ninguém, parei só pra mim. E vi que imenso era isso tudo, esse lado de cá, essa parte que ando com uma vontade imensa de deixar. Não viajei léguas, milhões de quilômetros, foram só alguns passos. Mas já me sinto incrivelmente mais livre. Já me sinto no direito de andar um pouco mais e de, talvez na próxima vez, voltar mais tarde. Já me sinto mais no direito de deixar pra trás, de arriscar um tombo, e de não ter ninguém por perto pra socorrer. Hoje acordei com uma vontade meio louca de conhecer o mundo. De sair por aí. E tudo que pude fazer foi conhecer aqui. Foi olhar mais de perto tudo isso. Foi ver o que sentia ao ir, e voltar depois. Tudo que pude fazer foi simular uma ida, e tive respostas. Tive a resposta de que posso esperar, e de que tudo pode vir a ter sua beleza... É só olhar. E de que posso deixar o vento soprar do outro lado mais um pouco sem sentir ele. E de que posso sentir um pouco mais o vento daqui... Porque existe vento aqui. Hoje acordei com uma vontade louca de embarcar, parar do outro lado... E tudo que fiz foi parar mais aqui. Hoje acordei com uma vontade louca de liberdade. E tudo que descobri foi que posso tê-la aqui também. De que não existe só do outro lado. E de que não existe em lado algum. E, sim, de que existe é em mim. Hoje acordei, enfim, cheia de loucura. Foi bonito. E me lembrou uma frase linda do Caio: "deixa o vento soprar, let it be". Hoje acordei, e agora vou dormir... O vento já sopra lá fora!
R.A 10/12/10

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