terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

I

Sempre escrevi. Minha memória é a escrita. Tenho tudo guardado em palavras. Tenho gestos, dores, perdas. Tenho alegria, tenho encanto, tenho amor. Por isso nunca tive medo de acordar e não me lembrar de nada. Por isso nunca tive medo de me perder de uma hora pra hora. Sempre foi só resgatar papéis, cartas, textos, e me sentir de novo. Nunca tive um medo de chegar a certa idade sem infância, sem lembranças. Nunca tive medo de sair perdendo partes por aí. Sempre fui segura, sempre fui inteira de mim. E sempre fui, porque sempre escrevi. Porque durante todos esses anos, vim deixando parte de mim aqui. Vim deixando a mim, vim deixando a eles. Sempre escrevi, sempre me encontrei nas horas em que cansada, me perdia. Sempre escrevi, sempre pude largar o que estava pesado demais, mas que não queria que se perdesse totalmente. Sempre foi assim, sempre seria. Sempre pensei que teria isso que já não chamava mais de "escrita", e sim de "apoio". Sempre pensei que, como uma recompensa da vida, poderia fugir para o papel, me esconder em palavras. Sempre pensei que, como em uma prova onde vale tudo, valeria nessa vida pra mim um pouco de refúgio. Sempre escrevi, sempre pensei que escreveria. Mas fui enganada.
R.A/ TRECHO DO LIVRO

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