terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CONTO

Sei o que deves estar pensando. Sei que deve tá achando tudo isso um egoísmo imenso meu, e toda aquela coisa que a gente tende a achar sempre. Ok, não tem problema. Não tem problema tu achares o que parece, não mesmo! Só que preciso te dar explicações maiores a respeito disso tudo, dizer o que penso, de verdade. Preciso te dizer que acho que não é bem assim, não é nada tão feio quando parece. Aliás, vejo até um lado contrário disso tudo: é quase bonito pra mim e pra ti. Mas tá, óbvio que não vou parar aqui pra te convencer de que o que tu achas feio é talvez bonito. Aí sim seria pretensão, egoísmo. Aí sim não estaria olhando pra ti. Mas não, não vou fazer isso. Só quero mesmo é te deixar ciente de que sei o que pensas sobre tudo isso, sei que não tá fácil, que tu deves pensar que eu devo ter encontrado um outro alguém. Ok, ok. Mas não! Não é bem assim. Tá, não vou te mentir, dizer que não encontrei nada. Encontrei, encontrei sim. Mas não é bem um outro, assim desse jeito: "outro". Até te falaria dele, desse "outro alguém", que não é bem “outro”, se eu não tivesse um medo de te causar um ciúme desnecessário, e falar de algo que ainda não conheço tão bem assim. Deves estar me achando louca agora. Deves até ter olhado a assinatura de novo no fim da página pra ver se lia algo meu mesmo. Sim, sei que fez isso! E também não tem problema! Imagina eu falando essas coisas. Nossa, até ri agora. Senti uma nostalgia imensa. E tu, tu deves estar pensando o que aconteceu comigo, mais do que pensavas a dias atrás, quando ficava imaginando coisas do tipo o meu encanto por outro alguém que não tu. Olha, te peço desculpas por tudo isso, por toda essa confusão. E não falo isso pra amenizar nada, ou pra fugir do assunto "o que aconteceu?". Faço isso, te peço desculpas, porque sei que devo. Não gostaria mesmo que fosse assim. Que eu tivesse que arrumar as coisas, sair um pouco, e deixar essa carta. E também não digo isso dessa forma porque pretendo voltar, ou acredito que tu vais me esperar. Não, não disse "um pouco" por isso. Disse um pouco porque estou indo, mas fico um pouco também. Não tô te largando inteiramente, viu bem? Tu, sim, podes me largar. Não gostaria! Acharia extremamente triste (assim, triste mesmo), doloroso. Mas também não quero te pedir algo impossível e te prender a algo que tu sequer compreende, ou que eu sequer compreenda inteiramente. Não vou te pedir isso nunca! Não vou te pedir espera, e não quero um pedido desses também. Aliás, tô deixando o telefone aí. Realmente não quero um pedido de espera! E engraçado: comecei isso tão acalma, e agora, agora que tenho que acabar, tenho que ir pro aeroporto (exatamente, é pra pensares que vou pra longe), sinto-me um pouco nervosa, desconfortável, com um certo medo. Mas, tenho que ir! E sei, não te expliquei até agora porque vou. Queres mesmo? E será que posso? É que soa tão, tão mal. Só que juro, vai ficar tudo bem. É pra ser bonito: mais pra ti e mais pra mim. Não te deixaria por algo menor, menos do que isso. Não te deixaria por algo sem beleza alguma, pode acreditar. Claro, sabes que nunca te diria algo do tipo "nunca te deixarei por ninguém". E, claro ainda, não te diria isto agora, quando te deixo. Mas pode acreditar, não te deixo mesmo por outro alguém. Não chega a ser um outro. Sou eu. Isso mesmo! Não tem ninguém nessa história além de mim e de ti. Somos só nós dois, como sempre foi. E, como quase sempre também, não é nada contigo. Aliás, te agradeço por isso. Por ter sido completo, e aceitado que eu não fosse. E te peço desculpas agora por não continuar apenas com a tua aceitação, e ter que buscar a minha, sozinha. Desculpa mesmo, mas sei que preciso ser mais livre, ser menos acolhida pra descobrir até onde chego, até onde posso. Desculpa, eu só quero sentir um pouco mais que o teu carinho. Quero sentir o meu por mim também! Desculpa!
R.A/ 2010

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