quarta-feira, 27 de outubro de 2010

DÁ NAMORO OU VAI PRA BARCA?

PERSONAGENS
JULIETA (“Romeu e Julieta” de Shakespeare)
DIABO (“O Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente)
DANTE (“A Divina Comédia” de Dante Alighieri)
DOM QUIXOTE (“Dom Quixote” de Miguel de Cervantes)
MAQUIAVEL
LEONARDO DA VINCI

DIABO - Olá, olá... Estamos aqui hoje com mais um “dá namoro ou vai pra barca?”. E temos aqui uma convidada super mega hiper especial: Julieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeta! Levante-se Julieta, por favor. Sorria para a plateia.
Rá, mas temos aqui hoje, também, outros quatro ilustres participantes. Hum... E quem, e quem será que vai conquistar o coração da nossa encantadora Julieta?
E já falando em Julieta, que tal começarmos por você, minha amada?
JULIETA - Ah Diabo, estou tão triste...
DIABO - Minha encantadora Julieta, fale sobre sua história...
JULIETA - Ah, tudo bem... Me desculpe, mas é que eu realmente ando bem desolada ultimamente, ou nos últimos 400 anos.
DIABO - Então conte-nos a sua história.
JULIETA - Sabe, eu fui muito infeliz na minha história. Aliás, se alguém vir o Shakespeare, diga-lhe que quero matá-lo.
DIABO - Matá-lo, minha cara... Mas por quê?
JULIETA - Aquele poeta idiota inventou de fazer drama e olha o aconteceu comigo?
DIABO - Mas o que aconteceu com você?
JULIETA - Se tu me deixasses contar minha história...
DIABO - Ah, pois bem... Conte-nos então. (risadinhas)
JULIETA - E como eu ia dizendo, aquele idiota do Shakespeare fez do meu o mais infeliz dos dramas. (choro)
DIABO - Ah, minha cara, não chore. Conte-nos sua história...
JULIETA - É o que eu estou tentando fazer, figura do inferno.
DIABO - (risos) Como tu és engraçada, Julieta amada.
JULIETA - Bom... E eu amava meu Romeu, mas nossas famílias, sim, se odiavam. O que tornou a história bem mais emocionante, tenho que confessar. Só que chegou tal dia que aquele infeliz do Shakespeare decidiu tornar tudo um dramalhão mexicano, e meu Romeu... (choro)
DIABO - Bravo, Bravo, palmas para a Julieta.
JULIETA - Mas eu não acabei...
DIABO - Bravo, Bravo!!
JULIETA - Mas...
DIABO - E agora, e agora? Candidato número 1, taurino, 541 anos... Quem será, quem será?
Palmas para o candidato um.
MAQUIAVEL - Obrigado, obrigado.
DIABO - Nos dê a honra de sua história, por favor.
MAQUIAVEL – Bom dia! Eu estava pensando aqui em uma das minhas obras políticas, e percebi que o Estado não entende o próprio Estado como ele é e muito menos como deveria ser.
DIABO - Candidato número 1, essa história a gente já conhece, troca o disco... rá, rá, rá.
MAQUIAVEL - Mas isso é desolante!
DIABO - Querido número um, o programa é amoroso, não é debate político, então, por favor, nos dê a honra de sua história.
MAQUIAVEL - A minha história é a política. Eu nasci no período mais conturbado politicamente da minha época na Itália, mas fui tão bem sucedido em análises, que nem aquele idiota do Médici conseguiu torturar meu ser.
Mas minha cara Julieta, tenho algo a confessar-te.
JULIETA - O que, o que?
MAQUIAVEL - Sou um apaixonado! Tu já leste minhas obras?
JULIETA - Ah, meu caro, mesmo se soubesse quem tu és não leria tal coisa.
MAQUIAVEL - Mas como? Nunca fui tão insultado em minha vida inteira.
Eu, tão cheio de dores e torturas, e rejeições.
Como tu ousas, jovem, insultar o criador do Príncipe?
TODOS OS PERSONAGENS - Maquiavel?
MAQUIAVEL - Eu mesmo, desolado com a vida. (choro)
DIABO - Não, não fique assim. Julieta está sensível...
JULIETA - Sensível? Eu estou é indignada. Esse tal aí chega aqui achando que pode me conquistar falando de política e eu que estou sensível? Sensível vai ficar é ele de ir para a Barca Do Inferno. E me dá isso aqui, Diabo. (Julieta pega o Tridente)
Vai, vai, vai...
MAQUIAVEL - Nunca fui tão insultado na minha vida inteira. Eu? O “Pai Da Política”.
JULIETA - Vai, vai, vai...
MAQUIAVEL - Diabo, eu preciso de uma companheira.
JULIETA - Então vai arranjar no inferno. Vai, vai... Nunca fui com a cara dos taurinos mesmo. Meu Romeu era capricorniano...
DIABO - Acalmemos os ânimos, crianças. E Julieta, me devolve isso.
JULIETA - Não, não, não! Quero ficar bem preparada para o que vem pela frente.
DIABO - Rá, rá, rá. A Julieta não é um amor, candidato número 2? Ariano, 558 anos, conte-nos sua história, e pelo amor do diabinho aqui, não fale de política.
Candidato dois?...
Candidato dois?
Candidato número dois, nos dê essa honra.
(candidato número dois pintando um quadro)
Candidato número dois, onde está você?
(diabo vai até Da Vinci)
L. DA VINCI - Ah, olá! Pinto Julieta num lindo quadro para presenteá-la como prova de minha genialidade diante de todos os outros.
JULIETA - Quadro, pra mim? Oooooh, que lindo! Este, então, deve ser o quadro mais lindo do universo, creio eu.
DIABO - Eu não teria tanta certeza...
JULIETA - Como disse?
DIABO - Não, nada. Mas querido número dois, por que enquanto pinta não nos engrandece com sua linda história?
L. DA VINCI - Ah... Eu? Eu fui um gênio.
JULIETA - Ai, que lindo! Modesto como eu.
L. DA VINCI - Obrigado, querida. Mas como ia dizendo... Amei de tudo um pouco: a ciência exata, humana, o corpo... Tudo me fascinou.
Mas Julieta me dê a honra de presenteá-la com minha linda obra, representando-te.
DIABO - Não, não... Isso não.
Como eu já disse, a Julieta está muito sensível hoje.
Pelo teu bem, não faça isso, meu amigo.
JULIETA - Mas por que, Diabo? Encantei-me com tal gentileza.
Meu Romeu era assim também: gentil, educado, inteligente e modesto acima de tudo.
Se apresente a mim, candidato dois, por quem já começo a encantar-me.
DIABO - Ai meu santo, isso vai dá morte.
(Da Vinci vai até Julieta)
L. DA VINCI - Como prova da minha superioridade, te representei mais linda ainda...
DIABO - Nãoooo...
JULIETA - (grito)
L. DA VINCI - O que foi, cara Julieta?
JULIETA - Cruz credo! Que mulher horrível...
L. DA VINCI - Como ousas, jovem? É tão bela quanto tu és.
JULIETA - Que insulto! Nunca fui tão insultada em toda minha vida. (choro)
DIABO - Porque choras, Julieta?
JULIETA - Dá pra me deixar encenar pelo menos uma vez? Eu sou personagem de drama, “pô”.
L. DA VINCI - E eu que fiz com tanto amor e carinho...
JULIETA - Amor e carinho? Me chama de feia, mas não me chama de burra. Isso aí é pura têmpera.
L. DA VINCI - Oh, que insulto! Não me interpretes mal...
JULIETA - Mal? Tu vai é pra Barca Do Inferno.
Nunca fui tão insultada em toda minha vida: Gorda, caruda, dentuça...
DA VINCI - Insultado fui eu em inspirar-me pra pintar um ser tão cheio de inferioridade.
JULIETA - Ooooh...
Vai, vai, vai... E não volta nunca mais! E também nunca chegues perto do meu Romeu se não quiseres morrer...
DIABO - Eu disse que isso não ia dar certo.
JULIETA - Próximo!
DIABO - Julieta, essa fala é minha.
JULIETA - Me estressei, diabo, me estressei.
DIABO - Mas nos acalmemos.
Candidato número três, capricha aí, pelo amor do diabo aqui.
563 anos, libriano...
DOM QUIXOTE - Sou famoso pela tristeza que carrego em minha armadura, sou eu o cavaleiro da triste figura.
DIABO - Tua história, candidato...
JULIETA - Mas eu gosto de poesia... Meu Romeu...
DIABO - Pode continuar, candidato...
DOM QUIXOTE - Sou um homem muito sonhador, talvez a imagem mais heroica que já existiu no mundo cavalheiresco. Amo os livros de aventura. Até o último que eu li era bem estranho, sabe... Hum, acho que Harry Potter.
JULIETA - Sério? Não me encanta muito, achei muito afeminado aquele garoto. E que história mais estranha...
DOM QUIXOTE - Mas para mim, também. Por isso que digo, nada como minha figura triste, indo bravejante, eu e Rocinante, e meu amigo Sancho, enfim, atrás de minha amada Dulcinéia.
JULIETA - (choro)
DIABO - Ai, meu diabo... Porque choras desta vez, Julieta?
JULIETA - Me emocionei...
DOM QUIXOTE - Me sinto sozinho, sabe... Careço de meu amigo, de meu bravo cavalo, de minha espada e de minha amada.
DIABO - Ah, não... Pra Barca! Não aguento mais drama... Vai, vai.
JULIETA - Lute com ele, meu bravo cavaleiro!
DIABO - Enlouqueceu, Julieta?
DOM QUIXOTE - Não lutarei, Julieta. Não é atitude dígna lutar com um ser de tão baixo calibre como tal.
Vou, enfim, atrás de minha amada na Itália, terra dos heróis, dos gigantes... (sai Dom Quixote lutando com o ar)
DIABO - Isso, isso. Já vai tarde...
Mas gente, isso aqui hoje está pior que a Barca do Inferno em dia de sacrifício. Só tem louco...
E agora, pelo amor a vida que tu tens, candidato número quatro, fala alguma coisa coerente. Se não eu mesmo vou te tocar pro inferno...
Geminiano, 745 anos...
DANTE - Eu sou um ser incompreendido.
Busco minha amada em uma obra...
JULIETA - Oh, que lindo! Eu também...
Mas me conta, como é tua dor?
DANTE - É dolorida, mas não perco as esperanças. Sabe, fui ao inferno atrás dela, encontrei até Virgílio. E se eu tiver que voltar lá, voltarei.
JULIETA - Ah, eu posso ir junto? Não perdi as esperanças de encontrar meu Romeu na eternidade ainda...
DIABO - Poxa, mas a coisa está ruim hoje mesmo...
Qual é a parte que vocês não entenderam que a moral do programa é a conquista? Isso aqui não é a casa da Mãe Joana, e muito menos o confessionário.
DANTE - Pera aí, eu te conheço de algum lugar.
DIABO - Sim, né. Eu sou o diabo.
DANTE - Ah, meu caro, imploro-te que me digas se vistes minha amada!
DIABO - Querido, eu sou o Diabo do Gil, não do Dante. Não confunde mais...
DANTE - Ah, mas ainda te pergunto...
DIABO - Não, não vi. Não vi ninguém... Nem amada, nem Romeu, nem ninguém...
E vamos logo com isso, que está demorado, né?
JULIETA - Mas me conte mais sobre sua jornada de amor que lembra tanto a minha dor...
DANTE - Eu sou minha própria representação, me criei a procura de mim.
JULIETA - Oh, que lindo! Meu Romeu era poético também.
DIABO - Ah, não... vão para o inferno!
JULIETA - Quer saber de uma coisa, diabo? Vamos mesmo... Romeu e a amada do jovem nos esperam...
DANTE - Prazer, Julieta. Sou o Dante...
JULIETA - Muito prazer, mas me conte mais...
(vão saindo os dois para a barca e fica o diabo sozinho)
DIABO - Querem saber de uma coisa? Eu é que não volto pra lá... (Diabo aponta para a barca) Que bando de loucos! (Diabo vai para o outro lado).
R.A (Projeto "Encontro de personagens"- Literatura 1º ano CMPA)

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