sábado, 30 de outubro de 2010

Tenho medo. Não sei se é exatamente um medo, ou se é apenas um desconforto. Enfim, tenho um medo. Um medo estranho, confesso, pois pode ser muito óbvio, ou pode ser muito mais que isso. Bom, mas tenho um medo. Sabe todas essas linhas que escrevo dia após dia? Tenho medo delas, é delas de que tenho medo. Medo do que faço com elas, e medo do que elas poderão fazer comigo. É, é exatamente isso que lês. Tenho medo do que eu mesma escrevo. Pois sei, apesar de fingir que não, que posso escrever de tudo, um tudo, mas sempre vou estar dizendo a mesma coisa. Disso tenho medo! Tenho medo desse infinito que eu mesma crio, e vou criando, e sustentando, alimentando... Pois, sei: sei o que sou, e sei o que deixo de ser também porque ainda não posso ser. Só que, inevitavelmente, no papel faço fusão, faço junção. Enlaço-me, deixou-me uma só. E tenho medo disso! Tenho medo de misturar-me. Tenho medo de tocar no que não estou pronta, mas que sei, jogo no papel todo dia porque também faz parte de mim. Tenho medo disso, bastante medo, pois, querendo ou não, fico sujeita, todo minuto, a um encontro a outra parte de mim que ainda não tenho um lugar para sustentar. Entende? Tenho medo. E é medo de encontro. Tenho medo do meu encontro. Tenho medo de um debate. Tenho medo de uma explosão aqui. Tenho medo da falta de espaço, tenho medo do sufoco... E, ainda, tenho um medo maior: medo de nunca encontrar... e ficar um vão aqui, tudo apenas no papel. Enfim, tenho medo é de ter criado um outro lado. Tenho medo de que seja só, de que eu seja só, e de que não haja outro lado algum de mim. Tenho medo é do tapa na cara, tenho medo do vazio, tenho medo da solidão... tenho medo é disso: decepção.
R.A 30/10/10

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