sábado, 12 de fevereiro de 2011

As crianças são figuras interessantes. Observo meu irmão há duas horas. Há pouco tempo atrás ele catava sujeiras do tapete. Ficava felicíssimo quando encontrava alguma coisa. Daí ia até a cozinha, botava o pezinho no lixo e jogava ela lá dentro. Depois parou- achou interessante o que eu fazia com as mãos aqui. Quis tentar também. Abri uma página em branco pra ele e fui mostrando como era mágico isso aqui- fui mostrando a magia de escrever. Ele gostou! Ria, ria... E ficou aqui fazendo isso comigo até cansar. Acho que vou guardar esse arquivo cheio de letras e símbolos e números- do Ti. Acho que vou guardar esse sentir dele por muito tempo. A gente se vê bem pouco. Às vezes o tempo é longo entre um encontro e outro- e me dói ver que não me reconhece direito depois. Fica me olhando, demora horas pra se soltar. E às vezes nem dá tempo. Acho triste isso- porque eu sei, quanto mais o tempo passa, mais difícil fica. Quando a gente cresce, o tempo de se criar ocupa todo espaço. E quem tá junto- tá junto. Agora quem não tá, é difícil entrar. Quem não tá não vê os medos, os desejos, as angústias. Quem não tá mal vê os gostos. Agora quando a gente é criança- o espaço pra outros ainda é grande- o sorriso pra outros ainda é gigante. A gente chora na frente de outros, a gente grita, diz que não, que não gosta. Quando a gente cresce, tão pouco. Não tem outros! E eu- eu sou um dos outros na vida dele. Ainda vejo aquele rostinho de perto- aquelas vontades- aqueles medos. O tempo vai passar- e não mais. Ele cansou e foi arrumar a cama pra dormir- pegou o travesseirinho, a coberta- e deitou. Ficou lá quietinho- de olhos bem abertos- esperando minha mãe chegar. Ela chegou. Daí ele levantou de novo- veio pra cá- sentou no tapete. Levantou de novo, voltou, e isso muitas e muitas vezes. Foi pra cama- e me chamou: Richeiiiiiiiiiiiii! Richelli- ele me chama de Richelli. E eu gritei: Oi, Ti! E ele disse: vem me procurááá! Tô indo lá- afinal, daqui uns dias, vou procurar a criança, e não vou achar- ele já vai crescer. Já vai. Todos já vão.
R.A 11/02/11

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