domingo, 3 de abril de 2011

Helena se apaixonou. Estávamos num café, ela na minha frente, e ela me disse: achei uma cretinice. Daí eu disse, não exatamente, porque não me lembro bem: a vida é cretina, Helena. Aliás, não só: o tempo o é também. Cuida isso! Daí ela parou, pensou e me perguntou: será que vale esconder a paixão? Daí respondi: essas coisas me pegam. Penso numa resposta qualquer, e segundos seguintes me vem a velha ideia de que vale tudo, até não machucar a alma. Então a gente ficou quieta um tempo... Helena estava apaixonada, não tenho outras lembranças disso. Que engraçado, penso hoje. Sabe, gostava da Helena. Gostava muito por sinal. Gostava da sensibilidade dela. E achei engraçado ela acordar num dia qualquer e começar a fazer jus a cara de apaixonada que tinha; daquele amor todo que mal cabia no peito. Distraída, naquele dia, escutei algo do tipo: que coisa mais doida, não? Acho engraçado como a paixão consegue calar certas coisas na gente, despertar outras, quando menos se espera. Às vezes consegue até deixar aquela dor de sempre mais gentil com a gente. As coisas parecem pesar de um jeito diferente, me disse. Respondi: impressionante! E ela, já tão distraída quanto, perguntou "o quê". Engraçado, não sabia exatamente: o deslumbre me vem muito sem nome. Acho que "impressionante" tanto sentimento, disse. E daí ela veio com isso: se perder não é tão feio assim. Estava pensando em mim "menos eu". Que nada! Então me veio, lembro bem, algo assim: Se perder também é se encontrar, Helena. A gente se perde querendo se encontrar, mas, na verdade, está se perdendo querendo se perder mais nisso tudo. A gente funde o encontro com a perda. A paixão funde. A paixão é essa fusão. É tentativa de encontro, mas é vontade de perdição. Entende? Então a gente parou, quietas. O café tinha acabado, o dia claro tinha se ido. Legal, estava tocando "O bêbado e a equilibrista". E me veio, de imediato, a relação: o apaixonado é o bêbado tentando ser equilibrista. Falei isso pra Helena, e ela cantou com a música: "a esperança dança na corda bamba". Engraçado como a gente via a paixão: um bando de extremos, como o tombo e o equilíbrio.

R.A/ Abril 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário